Eu sempre acho que falo pouco de Fernando Pessoa. Acho isso também de Guimarães Rosa. Mas eu poderia passar dias e dias falando de ambos – e não seria o bastante. Jamais poderia chegar perto sequer de arranhar o topo de sua relevância para a humanidade. E eu lembrei de Pessoa, hoje, em uma de suas frases famosas – dele, mesmo, não aquelas que atribuem a ele às mancheias, frases em geral repletas de clichês e tolices de autoajuda. Uma frase do “Poema em Linha Reta”:
“Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado/ Para fora da possibilidade do soco.”
Eu transpus essa frase para a realidade do Brasil. Isto porque o Brasil é como se fosse um eterno adolescente, grande o suficiente para exigir tudo, imaturo o bastante para não ser responsável por nada. E por “soco” entenda-se as teorias que acusam elementos externos como causadores do nosso subdesenvolvimento congênito. Sempre foi o esporte tupiniquim atribuir a culpa do nosso atraso crônico à terceiros.
Se o povo é mal educado, se vota mal, se gosta de novela ou de futebol, se nosso país será sempre o “país do futuro”, a culpa é sempre dos outros. Ou seja: nunca a responsabilidade é NOSSA, efetivamente. O Brasil é o País do Quase. Da ejaculação precoce. Do orgasmo simulado.
Pela nossa crônica e patológica mania de nos vitimizarmos diante de tudo, ao negarmos a responsabilidade que nos pertence – e só a nós – de efetivamente mudar esse país. O Brasil poderia ser o personagem principal do “Poema em Linha Reta”, de Pessoa.
E talvez – talvez – venha a ser uma nação de verdade quando parar de se agachar e fugir da mera possibilidade do soco.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.