24 de abril de 2024
Colunistas Joseph Agamol

O João Alfredo. Também conhecido como CEJA, ou, mais simplesmente, João

E agora, em 2022, completam-se quarenta anos que entrei para o João. Quarenta. Eu tinha dezessete, incompletos, quando subi pela primeira vez a rampa do velho colégio, outrora uma fazenda de café, sito à avenida 28 de Setembro, em Vila Isabel, Rio de Janeiro.

Eu era um garoto muito alto com meus 1,90m, dos quais o tempo, esse tira malvado, levou 5cm, e muito, muito magro, de óculos de aros redondos como John, meu blusão de flanela adequado aos invernos doces do Rio, e meus All Star azuis, quando All Star era All Star, e não Converse, e eram tênis de alunos pobres, como eu.

Quarenta anos. Em 1982, era outro mundo, tão distante de nós hoje em dia quanto, sei lá, a constelação de Andrômeda.

Ainda tínhamos um presidente militar, exilados começavam a voltar para o país, sequer se imaginava a existência de telefones móveis e mais canais de televisão do que os 5 ou 6 que tínhamos.

Em abril, todo mundo acordava às 5 da manhã com os fogos da alvorada do dia de São Jorge, ainda existiam festas juninas, a noite de São Pedro era a noite mais fria do ano, e, em setembro, crianças invadiam as ruas em uma torrente de asfalto e gente em busca dos doces de Cosme e Damião.

O adulto que sou hoje, que, aos 57 anos incompletos voltou a usar óculos para perto, gosta de pensar que aquele menino, de tênis de cano longo e olhar tímido e desafiador, ao mesmo tempo, ainda está lá, hesitante no início da ladeira que começava na avenida 28 de Setembro, em Vila Isabel, antes de iniciar a jornada que, ele mal sabia, levava direto ao futuro – que passaria tão rápido, tão rápido.

Eu me imagino voltando no tempo e abordando o meu eu de 17 anos, lhe dando conselhos, ignorando seu ar de certeza absoluta de que estava ouvindo um louco:

“daqui a 3 anos vai ter um festival chamado Rock in Rio: em vez do dia 15 e 19 de janeiro, compre para a sexta feira, a abertura, dia do Queen”.

Se dedique mais ao violão e ao inglês. Beba mais água, você vai me evitar umas cólicas renais de responsa. Compre a camisa da Nike do Flamengo e guarde.

Nunca mais haverá outra tão bonita. Guarde na memória os outonos em abril e as noites de maio. Abrace mais seu avô. Diga que o ama. Perdoe. Compreenda. Aprenda.

O meu eu de 17 anos se desvencilharia de mim e subiria, esbaforido, a ladeira do CEJA: afinal, não podia perder a aula do Abrahão. E nem a chance de ver a normalista linda da canção do Belchior.

E lá se vão 40 anos, e não mais um dia, como na música do Clube.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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