Ele colocou o telefone no gancho pela terceira vez. Suspirou. Entre a sala e a cozinha, segurando um pano de enxugar louça meio molhado, Linda observava. Ele se virou e, ao vê-la, encolheu os ombros e sorriu. Ela perguntou:
– vai ligar para ele, né?
– vou. Quero. Mas não consigo. Tanta mágoa.
– dos dois lados, não foi? Dele e seu também. Já se passaram dez anos. Considere como quites.
Ele viu que ela tinha razão. Como quase sempre. Respirou fundo, bagunçou o cabelo como se estivesse em um show, e pegou o fone de novo. Discou. Esperou. Atenderam do outro lado. Ele disse apenas:
– hey, John.
A milhares de quilômetros, o telefone tocou em Nova York. Ele tinha acabado de pôr o filho para dormir. Correu até a sala, torcendo para o toque não acordar Sean. Derrubou um violão no meio do caminho, conseguindo pegá-lo antes que caísse. Xingou baixinho e atendeu.
Ele reconheceu a voz de imediato, mesmo após tantos anos sem se falarem. A mesma mágoa lhe atingiu – mas foi, imediatamente, submergida por uma onda gigante de amor, amor que os uniu desde quando eram dois guris. Ele disse apenas:
– hey, Paul.
E conversaram.
(Continua)
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.