28 de março de 2024
Colunistas Joseph Agamol

O Bozo Invisível

Fotomontagem: Google – TV Foco

Meus amigos sabem que sou carioca. Um carioca meio exótico, que não gosta de carnaval, nem de praia e nem de esquerda. Mas sou. E que moro no interior de São Paulo há 5 anos.
Pois bem. Ao chegar, logo percebi que teria que desfazer uma imagem preconcebida e negativa dos cariocas. E foi o que fiz. Dia após dia aproveitei cada oportunidade para desconstruir a imagem deturpada dos nativos do Rio.
Algo semelhante ocorre por eu ter votado no Bolsonaro, assumido e mantido o apoio ao presida.
Faço questão de desmoralizar a imagem igualmente preconcebida, deturpada e divulgada ad nauseam pela mídia, que tenta mostrar os eleitores do Bolso como protótipos de fascistas, racistas em potencial, machistas por convicção e inimigos figadais da natureza, dos micos leões dourados, das baleias e das quase extintas girafas amazônicas.
Sério: eu tento ser gentil e cordato com todos. Eu argumento com educação. Me embaso em fatos. Pesquiso fake news para não divulgar. Sou praticamente um coelhinho rosa que solta puns de marshmallow, de tanta fofura.
Mas nada disso adianta. Por trás dessa minha imagem gentil, uma mistura de Mahatma Gandhi com Baby Yoda e pitadas de Bono Vox, há o terrível Bozo Invisível. Até rimou.
Já perdi a conta de pessoas que me deletaram de suas redes sociais – e de suas vidas – porque, apesar de tudo que tento demonstrar, eu sou, na verdade, o Bozo Invisível.
O Bozo Invisível é o culpado de todos os males, correntes e a porvir, e até os imaginados.
Da transformação da Amazônia em um novo Saara até a derrubada das bolsas e a alta do dólar, passando pela queda de cabelo e espinhela caída, é tudo culpa dele: o Bozo Invisível.
O Bozo Invisível era aquele moleque que puxava suas tranças na escola. O cunhado que pegou dinheiro emprestado e nunca pagou. O fio da blusa novinha que custou o olho da cara e rasgou. Que droga, o Bozo Invisível é culpado pelo seu bad hair day e até pela gordura acumulada no seu bumbum.

Por isso que eu desisti de argumentar com essas pessoas: o mito do Bozo Invisível é poderoso demais, atávico demais, para ser dessacralizado.
Por mais que o presidente demonstre, dia após dia, que não é absolutamente o que se propagou dele antes das eleições: não é um ditador, nem está interessado em ser, não persegue ninguém e todos são livres para o encher seu saco diariamente, como aliás o fazem.
Não adianta: eu posso parecer o ursinho Pooh confeccionado com algodão doce colorido e MM’s.
Mas eu sou, na verdade, o Bozo Invisível.
Que droga.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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