19 de abril de 2024
Colunistas Joseph Agamol

No tempo do bocejo de Audrey Hepburn

Em 1952, Mark Shaw tinha acabado de começar a trabalhar como freelance para a revista Life, mas seu trabalho como fotógrafo de moda já era conhecido.

Talvez por conta disso, Shaw foi escalado para fotografar a jovem atriz Audrey Hepburn, então com 23 anos, durante as filmagens de “Sabrina”, em Nova York.

Dizem que Audrey, a princípio, mostrou-se reticente. Mas, após duas semanas de trabalho, ela se mostrou confiante e permitiu que Shaw a registrasse em seus momentos pessoais: o que produziu algumas das imagens mais icônicas da atriz – e do cinema do século 20.

Eu espio, time-traveler que sou, o viajante do tempo pela minha fresta entre os mundos, Mark Shaw mover-se com seu equipamento mínimo, sua única câmera a registrar Audrey Hepburn, os pés descalços, entre livros e cafés, em um mundo que recém-erguia-se dos escombros da Segunda Guerra Mundial, um mundo de Elvis e Avas jovens, um mundo de Hemingways e Remingtons, de Tons e sur-tons, um mundo mais delicado e sutil, avesso ao explícito, ao ordinário, ao corriqueiro.

E, na brandura desse mundo que alça os olhos para o alto, na promessa de vida em todos os corações, em um instante, um átimo, Audrey Hepburn boceja.

E eu percebo que Audrey Hepburn bocejando, em uma manhã serena da Nova York de 1953, é indizivelmente mais belo e perfeito e gracioso do que quase qualquer coisa produzida no mundo de onde venho.

Foto: Mark Shaw

E tudo que eu desejo é morar no vão do tempo que persiste entre o bocejo de Audrey Hepburn, no outono nova-iorquino dos anos 50.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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