Estamos em 1972.
Espiando pela fenda entre os tempos podemos ver a moça, com seus jeans de cintura baixa e sua blusa colorida, sua barriga achatada como lâmina de faca, sua mão displicentemente apoiada na cintura, ou ajeitando um cabelo que não precisa ser ajeitado.
Ela não parece usar um pingo de maquiagem – e quem precisa, do alto de seus 21 anos?
A moça apenas nos encara, parecendo curiosa sobre o viajante do tempo que a observa, maravilhado, através do que parece ser um rasgo em meio ao campo de trigo em que ela se encontra, trigo dourado como os cabelos que coroam sua beleza tão estranha quanto magnífica, e dos quais quase posso sentir o cheiro, cheiro de xampu em cabelo recém-lavado.
Eu forço um pouco mais a abertura entre os universos: desejo permanecer aqui, em 1972, sem celular, sem streaming, sem redes sociais. E me pergunto o que aconteceria aos mundos se eu apenas deixasse a passagem fechar atrás de mim e mergulhasse nesse tempo para sempre.
Um tempo suave onde Sissy, sim, é esse seu nome, a moça de blusa colorida e jeans de cintura baixa, me encara, apenas ajeitando o cabelo em meio a um campo de trigo dourado.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.