Foto: Marlon Brando, em 1954, por Murray Garret
Eu sou da Geração Máquina de Escrever. Eu vivia brincando na dita, como aqueles macacos da fábula, que se ficassem batucando mil anos em máquinas de escrever acabariam por compor as obras completas de Shakespeare. Nos dias de chuva, lá ficava o pirralho sentado diante da geringonça, intrigado com sua estrutura intrincada, toda teclas, óleo e engrenagens.
Penso que os da Geração Máquina de Escrever transportamos um pouco do modus operandi das máquinas para a vida. Sabíamos que, uma vez as palavras postas no papel, apagá-las era uma azáfama. Talvez por isso executássemos as tarefas com mais esmero. Talvez as novas gerações acreditem que a Vida é como um MacBook: apagar os malfeitos é simples como deletar um período mal construído – basta executar um comando e lá se vão as palavras – e ações – para a lixeira.
A Geração Máquina de Escrever aprendeu à duras penas que não é assim. Por isso eu lamento o seu desaparecimento: hoje estão extintas como os pássaros Dodô. E sem chance de reaparição, como ocorreu com as vitrolas.
Fotografias são portais. E eu gostaria de entrar neste e ir para o tempo de Brandos, e Roleyflex’s, e gatos espiando por cima do ombro o que se está escrevendo à máquina.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.