“Bumbum”, sim, uns dizem “rabo”, mas não sei porque usam uma palavra assim tão feia, tal como “empoderado”. Minha mãe foi mãe solteira nos anos 60 e se a chamassem de “empoderada” ela mandaria “tomar no tu”.
E fazem saliência no Carnaval.
Minha vó que falava isso, “saliência”, também não faço ideia porque essa palavra saiu de moda, tão catita – “catita” é outra, ninguém fala, coisa de Machados e Alencares, quase não se lê mais.
Acham que chocam a tal “família tradicional brasileira”.
Chocam não, donas.
A gente até comenta, mas é de nervoso, viu? Tipo quando a gente vê um bêbado trançando perna na rua, e a gente vê que vai cair? É isso, a gente comenta só para ver o quão vai cair mais, sabe? Chocar não choca não.
Os rebolados que importam para a tal “família tradicional brasileira” são tipo esses, ó:
Rebolar pra quitar os boletos do mês e não ir parar no essepecê.
Rebolar pra entrar no trem lotado, no ônibus lotado, no metrô lotado, no lotação.
Rebolar pra botar iogurte na geladeira, biscoito recheado na despensa e feijão preto na mesa.
A tal “família tradicional brasileira” não fica chocada com bumbum rebolando no Carnaval. Ou fora dele.
Ficaria se vocês rebolassem que nem a tal família tradicional.
Rebolar pra acordar às 5 da madruga, dar café pras crianças, pentear cabelo, trocar roupa, deixar na creche, deixar na escola, dar beijo e dizer “te amo”, depois correr pra condução – lotada – pra chegar às 8h ou às 9h no batente, no trampo, na firma, ralar o dia todo, sair às cinco, às seis, pegar as crianças, dar banho, dar janta, dar beijo de boa noite, dizer “te amo”, ir dormir à meia-noite ou à uma – só pra acordar às 5h e recomeçar tudo de novo.
Todo dia a gente rebola sempre igual.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.