Observe a senhorinha da foto. A doce velhinha com seu cachorro e sua bicicleta.
Ela poderia facilmente lembrar a cada um de nós a imagem arquetípica da vovó em sua cozinha, com suas receitas e tortas e geleias. Mas não se engane.
Marie-Rose Gineste, a senhorinha que nos encara na foto, foi uma combatente. Uma defensora feroz de tudo aquilo que é Bom, Justo e Puro.
Uma lutadora a serviço da Luz – enfrentando as sombras que pareciam querer tragar o mundo nos anos 40, em sua aldeia na França dominada pelos nazis, durante a Segunda Guerra Mundial.
Em 26 de agosto de 1942, o bispo de Montauban, Pierre-Marie Théas, indignado com as deportações em massa feitas pelo governo colaboracionista francês, escreve uma carta pastoral, na qual suplica às igrejas que escondam e ajudem na fuga dos judeus e condena com veemência os atos nazistas.
A carta deveria ser lida com a máxima urgência em todas as paróquias da diocese – no domingo seguinte, 30 de agosto. O bispo incumbiu mademoiselle Gineste, cristã fervorosa, da missão.
A jovem disse ao bispo que seria arriscado enviar a carta pelos correios – e propôs, ela mesmo, percorrer a diocese inteira em sua bicicleta e levar a carta em mãos a cada igreja.
Mas não parou aí: Marie-Rose Gineste ajudou a encontrar abrigos para crianças e adultos judeus em instituições religiosas e forneceu documentos falsos para proteger suas identidades dos nazis.
Como reconhecimento dos homens, mademoiselle Gineste recebeu, em 1985, 40 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, o título de Justa entre as Nações.
Ah, caso você queira saber o que houve com a bicicleta: ela virou um símbolo da luta contra os nazis e hoje está guardada com carinho no acervo do memorial Yad Vashem, em Jerusalém.
Mademoiselle Gineste? Com certeza, está guardada com o mesmo carinho nos braços do Pai.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.