25 de abril de 2024
Colunistas Fernando Gabeira

Diário da crise XXXI


Hoje aprendi algo interessante, lendo um artigo do Dr. Richard Levitan, no New York Times. Sei que é temerário para um leigo interpretar uma reflexão científica. Mas a sensação que tenho nesse caso é de que não cometerei nenhum erro perigoso, caso o cometa.
Ele é um especialista nesta modalidade da medicina que utiliza os respiradores e entuba as pessoas pela traqueia. Dá aulas sobre o tema e quando chegou a crise do coronavírus decidiu voluntariar num hospital para ajudar as pessoas, inclusive as que não têm a mesma experiência que ele.
Levitan chegou a uma conclusão interessante sobre o coronavírus. Ele está acostumado a tratar pneumonia mas descobriu que a provocada pelo coronavírus tem uma atuação diferente no pulmão humano.
Enquanto na pneumonia as pessoas as vezes perdem a capacidade de respirar muito agudamente de uma só vez, no caso das provocadas pelo coronavírus o processo é diferente.
Um paciente com coronavírus às vezes ainda consegue falar no telefone celular alguns minutos antes de ser entubado. Isso é incomum em outros casos porque as pessoa está usando todos os músculos para uma simples troca de ar.
O titulo do seu artigo é a “doença silenciosa que atinge as vítimas do coronavírus”. Silenciosa porque a pneumonia avança e como o processo é diferente as pessoas não conseguem sentir a falta de ar.
Quando sentem, pode ser tarde de mais.
O processo de respirar com o coronavírus é mais fácil até um certo momento mas é muito mais destrutivo. Isso explica porque a doença em certos pacientes tem uma progressão tão rápida.
Pelo que deduzi do artigo, a tática correta diante do coronavírus não é procurar o hospital quando se sente falta de ar. É possível que o ar já esteja mais raro e a pessoa não perceba esse processo.
A saída que ele propõe é o uso do oxímetro, um aparelho simples como termômetro, talvez um pouco mais caro. O oxímetro mede o nível de oxigenação no organismo. Há tabelas bem definidas sobre os níveis perigosos. Ele pode captar a falta de oxigênio mesmo se o paciente, dada às características do ataque do corona, ainda não o sentiu claramente.
Lembrei-me do relato de um médico chinês atacado pelo coronavírus. Era uma espécie de diário e ele sempre consultava seu oxímetro para saber sua condição real e o momento de pedir ajuda.
Com a introdução da telemedicina no Brasil e essa lição de Richard Levina, creio que o oxímetro seria um grande instrumento para monitorar pacientes em estágios iniciais da Covid-19. Atacar logo a pneumonia silenciosa, pouparia vidas e também respiradores.
Essa é uma conclusão de leigo. Nesse momento todos dão palpites e os médicos não gostam muito disso. Mas o meu palpite é uma dedução da experiência de um grande especialista. Certamente um oxímetro não fará mal a ninguém. É apenas mais um instrumento para nos conhecermos.
Blog do Gabeira
Fernando Gabeira

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

1 Comentário

  • Ademar Amâncio 28 de abril de 2020

    Acabei de ver dois pacientes atacados com pneumonia grave (pelo corona) falando no celular.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *