Chega de frescura e mimimi, vão ficar chorando até quando? – Esta frase dita hoje pelo presidente Bolsonaro é uma espécie de lição mundial sobre o tipo de líder que o Brasil tem nesse momento em que perdemos quase duas mil pessoas por dia.
Não adianta muito fazer longas preleções sobre isso. Bolsonaro é isso e muitos dos seus seguidores entendem como ele que não há que chorar os mortos e que enfrentar ou não a covid19 é uma questão de coragem ou covardia e não de estratégia e conhecimento científico.
Pelo menos, o governo anuncia agora que vai comprar vacinas da Pfizer. Foi preciso uma longa batalha para pressioná-lo. Inicialmente, Bolsonaro veio com a história de virar jacaré, resistindo em seguida com o argumento de que a Pfizer não se responsabilizava pelos efeitos colaterais.
Foi preciso fazer uma lei especifica permitindo que estados e municípios comprassem a vacina, para Pazuello, finalmente, se reunir de novo com a Pfizer.
Por acaso, Bolsonaro decidiu implicar com uma das melhores, senão a melhor, vacinas produzidas no Ocidente. Ela tem alto nível de eficácia e inclusive já foi testada contra algumas variantes do Coronavirus.
Há quem diga que essas declarações de hoje, destinada a produzir de novo um certo escândalo, são uma tentativa de Bolsonaro de desviar a atenção da noticia da compra da mansão de Flávio.
Pode até ser uma tática mas se for é inútil. Bolsonaro ofende as pessoas que foram contaminadas, os mortos e seus parentes, para esconder algo que é de domínio público. O tema mansão de Flávio Bolsonaro foi um dos mais pesquisados no Google.
Finalmente, o Senado aprovou o auxilio emergencial em dois turnos. As tentativas de retirar o piso de gastos na Saúde e Educação, contra partida pedida por Paulo Guedes, foram rejeitadas.
Numa entrevista concedida hoje ao Globo, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central disse algo importante: este auxilio emergencial não deveria ter sido cortado. Muito sofrimento teria sido poupado.
As previsões sobre o avanço da Covid no Brasil não são nada otimistas. Há quem preveja aumento no número de mortos e fechamento geral.
Hoje fiquei impressionado com o depoimento do senador Sérgio Petecão. Ele viajou ao Acre para tentar salvar dois de seus assessores mas ambos morreram com covid-19 com as famílias pedindo socorro.
Apesar de Bolsonaro não se dar conta, o Congresso vai perceber a gravidade do tema. Na Câmara dobrou o número de parlamentares e assessores contaminados pelo vírus.
Aos poucos, um inimigo invisível vai fechando o cerco e todos têm de tomar consciência dele. Comovente a cena de pessoas ajoelhadas rezando pelos doentes em torno dos hospitais de Santa Catarina. O melhor seria fazer isto em casa para não se arriscar. O estado está transferindo doentes para o Espírito Santo, 35 pessoas morreram esperando uma UTI.
Isso não é para chorar? Cada dia perdemos com a Covid-19 mais gente do que a queda de quatro aviões.
Fonte: Blog do Gabeira