23 de maio de 2025
Fernando Gabeira

Golpes bananeiros

Truques e trapaças para nunca largar o osso

Há golpes de judô, de jiu-jítsu, de caratê; golpes e blefes nas mesas de carteado; golpes do baú – jovens de olho em idosas e idosos ricos – e até golpes de sorte; presentes do destino. No entanto, o golpe citado aqui é aquele da política, muito comum em repúblicas bananeiras latino-americanas; manobras obscenas para conquistar e manter para sempre o poder nas mãos. Ou melhor: sob as patas de determinado indivíduo ou grupo.

Indispensável nessas tramoias é o protagonista, o mestre da farsa. Geralmente, trata-se de um sem-vergonha, um falastrão, um espertalhão ambicioso de moralidade, ética e cultura nauseantes. Hoje, graças aos artifícios da comunicação, tal safado é comumente coroado com os títulos de “salvador da pátria”; “defensor dos pobres”, “paladino da democracia”, “voz das minorias” e outros clichês enganosos. Infelizmente, as massas de manobras formadas por incautos, ignorantes, mal informados e miseráveis ainda engolem esses logros e, nas urnas, despejam os votos tão desejados pelas quadrilhas dos mandões.

Os crimes, as aberrações e artimanhas que marcaram eventuais vidas pregressas devem ser cuidadosamente apagadas – tarefa a cargo dos meios de comunicação, devidamente subornados com volumes inacreditáveis de numerário ou através de favores e pactos desavergonhados. Próceres das repúblicas bananeiras dedicam atenção prioritária à justiça. Nos tribunais, apenas amigos devem ocupar cargos porque sentenças favoráveis e absolvições providenciais serão utilíssimas ao longo da jornada. Ações coordenadas garantem assim o alcance, a manutenção do poder e o sucesso do golpe e, como previsível, envolvem o permanente abastecimento de numerário em quantidades astronômicas para fins de persuasão.

De onde vêm tais quantias? Um chanceler alemão disse a sábia frase: “é melhor que o povo nunca saiba como são feitas as salsichas e os acordos políticos”. Assim, a dinheirama deve circular de preferência em malas discretíssimas e enormes, tamanho o volume absurdo de dinheiro sujo. Graças aos solos sul-americanos, em algumas repúblicas bananeiras os donos do poder têm à disposição milhões, bilhões jorrando permanentemente dos membros do narcotráfico, frequentes parceiros no atual contexto, os quais, pela relevância, sempre perdoados de seus crimes.

Valores tão altos permitem corromper qualquer cidadão – desde o mais humilde burocrata que legitima a trama em troca de um presentinho até o mais alto figurão, titular de gordas contas bancárias no exterior. No topo dos organogramas clássicos republicanos estão ainda os militares, os quais, na condição de seres humanos falíveis, também podem ser susceptíveis às tentações monetárias, engrossando a lista dos cúmplices omissos e silenciosos em momentos críticos.

Adversários explícitos ou potenciais lideranças devem sofrer permanente assédio, ameaças, perseguições, intrigas. Vale tudo contra eles: processos surreais, impedimentos legais, exílios compulsórios, prisões por motivos fúteis e até tentativas de assassinato. Os golpistas bananeiros profissionais – bilionários do assalto constante aos cofres públicos – fazem qualquer coisa para não largarem o osso e a boa vida que levam às custas dos contribuintes.

Porém, o povo costuma reagir. Tiranos não saem às ruas sem levarem vaias. Já os legítimos líderes, aqueles capazes de transformar o país e acabarem com as trapaças, são aplaudidos espontaneamente, estejam onde estiverem. Têm o carinho constante das massas, enquanto os biltres se refugiam atrás das mentiras e dos seguranças mal-encarados. E o povo indignado, quando sai às ruas para gritar “chega”, é recebido pelos cassetetes da polícia e enfiado na prisão por “ameaçarem a democracia” ou por “terrorismo”.

Por último, o mais grave: quando desacreditados, acuados e surrados nas quatro linhas do ringue constitucional, os bananeiros lançam mão do último e odioso recurso: a fraude eleitoral. Pois é: como é triste e dramática a situação da Venezuela, não

Fernando Fabbrini

Escritor e colunista de O TEMPO

Escritor e colunista de O TEMPO

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