15 de janeiro de 2025
Fernando Fabbrini

Vem aí a ANCAGA?

O Senado inventa moda e abandona o essencial

Se você der uma olhada nas estruturas econômicas dos países que deram certo – os nórdicos, por exemplo – vai perceber um estilo similar de administração. Os impostos são bem altos, mas o retorno para o cidadão é proporcional. Resumindo: paga-se muito ao fisco, mas recebe-se de volta todo o necessário em saúde, segurança, transporte, previdência etc. Isso se chama honestidade.

Por outro lado, as republiquetas fazem exatamente o contrário. Arrancam nossas peles, músculos, vísceras, chupam os ossinhos e nos devolvem mixarias, quase como gentilezas, favorzinhos. Mas, então, para onde vai o dinheirão arrecadado? Claro que sabemos: para os bolsos da turminha que manda e desmanda; para os amigos; para os que bancaram as campanhas eleitorais; para os companheiros do partido – todos ganham cargos inúteis e regiamente pagos.

O Senado aprovou o PL 2.230/2022, projeto de criação de um cadastro de animais domésticos “(…) feito pelos municípios e pelo Distrito Federal, a partir de modelo fornecido pela União. Serão cadastrados dados pessoais do proprietário e informações sobre o animal, tais como espécie, raça e idade. (…) O objetivo é concentrar informações referentes aos tutores e aos animais, que poderão ser usadas para definir políticas públicas e decisões futuras, especialmente quanto a questões sanitárias, como campanhas de vacinação”. Será mesmo esse o objetivo?

Tanto assunto urgente, importante e abandonado nessa pobre nação de Lulas arcaicos & Janjas deslumbradas e agora inventam mais isso? Sempre que o estado brasileiro se mete nessas questões, o desastre, a confusão, a desconfiança e os desperdícios de tempo e dinheiro vêm junto. Lembro-me das ações da Prefeitura quando os cães da região metropolitana foram vítimas da leishmaniose, há anos. Fiscais percorreram os bairros de classe média testando o sangue dos cachorrinhos e, em caso positivo, o dono era obrigado a entregar seu animal para extermínio. Idosos e crianças sofreram horrores ao perderem seus bichos. A medida tinha, sim, um propósito justo. Porém, essa caça aos animais contaminados ocorreu exclusivamente – repito – nos bairros de classe média de BH, “para dar visibilidade”, enquanto a imensa população de cães e gatos das vilas e favelas da periferia permaneceu intocada, ninguém ia lá.

Sobre o PL acima, logo surgem perguntas inevitáveis. Será obrigatório o cadastramento? Os senadores fazem uma vaga ideia do número assombroso de animais domésticos existentes no País? Já imaginaram quantos bichos que hoje contam com um cantinho, um prato de ração e um dono carinhoso serão abandonados para escapar de mais essa obrigação do contribuinte?

E, sabendo-se que Rex, Pretinha, Nina, Totó ou Mimosa não possuem impressões digitais nem carteirinha de identidade com retrato, filiação e assinatura, a única solução para tal cadastramento será implantar chips neles. Ah, agora sim; tá explicado: isso vai exigir gente, concurso público, mais funcionários, salários, frota de camionetes, equipamentos. E amigos do governo vão adorar fornecer os chips, as embalagens dos chips, os dispositivos para injeção dos chips, o aplicativo de localização dos chips, a substituição de chips defeituosos e outros gastos incontroláveis. O argumento de defesa da ideia – “definir políticas públicas e decisões futuras, especialmente quanto a questões sanitárias, como campanhas de vacinação” também dá margem a vagas, dúbias e até tenebrosas interpretações. Não será mais uma tentativa de controle e invasão de privacidade do cidadão?

Seja o que for, preparem-se. Só espero que o projeto não seja o embrião de mais um trambolho a ser sustentado pelo contribuinte brasileiro, tipo um órgão de nome ANCAGA – Agência Nacional de Cães e Gatos, com dotação de dinheiro público e campanha publicitária, bichinhos bonitinhos e crianças sorridentes brevemente na sua TV.

Fernando Fabbrini

Escritor e colunista de O TEMPO

Escritor e colunista de O TEMPO

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