21 de janeiro de 2025
Fernando Fabbrini

O peso de um amendoim

Nos Estados Unidos, a vitória foi da vida real.

A gente acha que já se acostumou com as aberrações desses tempos e aprendemos a rir delas, mas não. Vejam esta: universidades norte-americanas contrataram psicólogos especializados em estresse pós-traumático para atendimento a jovens estudantes. O que teria acontecido a eles? Perderam familiares nos furacões da Flórida? Escaparam de um maluco que matou colegas num campus? Nada disso: estão apenas profundamente deprimidos após a vitória de Trump – e querem colo.

É mais uma amostra dessa porção hedonista da juventude incapaz de enfrentar contrariedades, absolutamente despreparada para a dureza da vida – uma nova evidência que deve engrossar a lista de preocupações de pais e educadores. A figura afável e meio maternal de Kamala Harris catalisou, na mente de muitos norte-americanos – adolescentes de primeiro voto, sobretudo – um modelo utópico de mundo onde problemas graves da época – desemprego, moradia, impostos, imigração e outras urgências – simplesmente sumiriam num toque da varinha de condão WOKE. Ou Kamala também fantasiava um universo só repleto de prazer e harmonia que a colocava na mesma frequência irreal de seus fãs ou, então – o que é provável e bastante desonesto – tinha plena consciência dos desafios do futuro, mas preferiu enganar ingênuos e idealistas.

A grande mídia contribuiu de forma tendenciosa, dissimulada, exatamente o oposto do que se espera dessa atividade que já foi bem mais nobre. Até Hollywood, patrulhada pela militância politicamente correta, montou sua artilharia. O filme “O Aprendiz”, do diretor iraniano Ali Abbasi, estreou em outubro, às pressas, retratando Trump de forma muito pouco elogiosa.

O velho sistema investiu tudo na demonização de Trump, mas não funcionou. Sua vitória incluiu melhor estratégia; passou maior confiança de que ele é o líder certo e carismático para resgatar valores que os EUA vêm perdendo há décadas. E como o voto é secreto, jamais saberemos qual foi a influência de um esquilo chamado Peanut na contagem dos votos.

O nova-iorquino Mark Longo e sua mulher Daniela gostam de bichos; recolhem animais abandonados, machucados ou desorientados na cidade grande, abrigando-os. Peanut era um deles; um esquilo de 7 anos que divertia milhares de seguidores na internet com suas travessuras. Um vizinho cismou que o esquilo “poderia transmitir doenças” e fez uma denúncia anônima. Agentes armados invadiram a casa de Mark e agarraram Peanut, que reagiu, mordendo o dedo de um deles. Levaram o esquilo e um guaxinim que também estava sob os cuidados do casal – e sacrificaram ambos “porque foram testados para raiva”.

Dizem que a violência é tão americana quanto a torta de maçã. Como vemos, o dito não se aplica apenas aos filmes de cowboys e gangsters recheados de socos e tiroteios. O caso Peanut rendeu e tornou-se uma questão política. Cidadãos republicanos de perfil conservador – aqueles que agora no Brasil são taxados pela imprensa como de “extrema-direita” – ficaram indignados. Houve um tanto de exagero, autoritarismo e repressão nesse episódio; um alerta contra governos que oprimem os cidadãos, chegando ao ponto de invadir suas casas e matar um animal de estimação.

Peanut virou mascote na campanha de Trump. O peso do esquilo no resultado pode ter sido ínfimo como o de uma casca de noz num dos pratos da balança eleitoral. Mas as análises posteriores ao pleito, quando sérias, foram certeiras: a avalanche de votos veio de pessoas comuns, trabalhadores da classe média, gente de saco cheio dos recentes governos desastrosos e desconfiados de uma candidata risonha, mais preocupada com devaneios do que com questões críticas do momento. Resumindo: a vida real mostrou seu poder – e traumatizou a garotada. Só rindo, outra vez.

Fernando Fabbrini

Escritor e colunista de O TEMPO

Escritor e colunista de O TEMPO

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