16 de setembro de 2024
Carlos Eduardo Leão

Aeroportos: as rodoviárias do ar

De chics a muquifos. A triste realidade dos aeroportos brasileiros

Vivi uma época em que aeroporto era algo chic. As pessoas que por lá transitavam, passageiros ou não, trajavam-se bem, comportavam-se conforme o ambiente, com classe e educação o que se repetia com os funcionários, sempre corteses e atenciosos, frequentemente disputando a primazia de melhor atendimento com os seus iguais concorrentes.

Lembro-me do meu avô, meu pai, meu sogro, a absoluta maioria de sua geração invariavelmente de terno e gravata e as mulheres com o glamour que o ambiente exigia para as viagens aéreas.

Não peguei essa época. Na minha juventude a informalidade deu lugar à belle époque de outrora mas completamente longe do que se vê hoje em dia. Aeroporto passou a ser um ambiente deletério, uma espécie de “Rodoviária do Ar”.

Atrevo-me compará-los com mercados de quinquilharias como o Mercado Central de BH ou “Ver-o-peso” de Belém, ou ainda um Shopping Oi da capital dos mineiros ou uma 25 de março “indoor” dos paulistanos. O Grand Bazaar de Istambul ou os melhores “mercados tipo persa” mundo afora entram altivos nessa equiparação quando se trata de aeroportos com voos internacionais.

Embora a maioria reformado e com boa infraestrutura, o problema deixou de ser o espaço físico mas sim quem o frequenta. Outro dia, em Viracopos lotado, um casal jovem sentou-se no chão por falta de assentos. Até aí tudo bem não fosse o mancebo retirar sua bota tipo texana e começar a cortar suas unhas do pé direito. O pior foi a companheira lixando o que restou da primeira operação enquanto ele iniciava a segunda no pé esquerdo. O amor é lindo!

Esqueçamos as riders, havaianas, regatas, bermudas, travesseiros de estimação com aquelas fronhas babadas e ensebadas e as indefectíveis mochilas, a maioria surradas e com a infalível garrafinha de água enfiada em um de seus compartimentos. Tudo isso faz parte do conjunto cênico que caracteriza hoje a cafonice dos aeroportos brasileiros.

Insuportáveis são alguns detalhes que ainda pioram esse martírio que tem sido enfrentar aeroporto. Vocês já repararam que nas esteiras rolantes, pensadas para acelerar a caminhada de passageiros atrasados, sempre existem babacas parados atrapalhando quem está com pressa? O que esses idiotas pensam da vida, meu Deus? Que estão num parquinho de diversão caminhando num chão que anda sozinho?

Já dentro da aeronave, não está no gibi o que eu e, certamente, a maioria que me lê, já tomamos de mochilada na cara enquanto colocamos ou retiramos nossa bagagem dos compartimentos superiores por apressadinhos insensíveis que não nos esperam tratar nossas tralhas.

O único fato positivo deixado pela pandemia durou pouco. Refiro-me à saída das aeronaves feita ordenadamente pelo número dos assentos. Foi um período áureo de educação e civilidade na aviação civil. Acabaram os atropelos, as mochiladas na cara e malas na cabeça de quem ainda estava sentado. Infelizmente a loucura permanece e o desembarque voltou a ser insano e medieval.

A espera da bagagem nas esteiras rolantes quase coincide com a duração do voo de tão demorada. Mas se chegam ou chegam sãs e salvas de avarias devemos por as mãos pro céu e esquecer a demora.

Não sei você, mas se a malha rodoviária brasileira fosse de qualidade pelo menos razoável eu dificilmente passaria por tanto dissabor nesses muquifos de 5ª categoria que se tornaram nossos aeroportos.

Mas até lá, bom voo a todos! Talvez “todes”. Fica mais coerente.

Carlos Eduardo Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

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