18 de outubro de 2024
Colunistas

O 7 de outubro

Foto: BBC

O massacre terrorista de 7 de outubro em Israel, desfechado em sincronia, coordenado e conduzido pelo grupo Hamas e por ele codificado como “Operação Dilúvio de Al-aqsa”, exterminou em um dia cerca de 1,2 mil pessoas e fez 136 reféns, predominantemente civis, teve um efeito estarrecedor em varias regiões do mundo.

Em meados desse mesmo mês, num almoço com um casal amigo, o assunto não podia ser outro.

Poucos dias atrás, em outro encontro semanal, o meu amigo me relatou que ficou encasquetado por muito tempo com meu argumento que comparava a sensação que tive sobre o massacre de 7 de outubro com o massacre de My Lai.

Como pouca gente lembra – sobretudo os ativistas pró-Hamas da Universidade de Columbia – o que foi o massacre de My Lai, tentarei resumir.

Em 1968, no auge da Guerra do Vietnam, um pelotão das FFAA dos EUA, comandado pelo tenente William Calley, matou cerca de 504 civis sul vietnamitas, sendo 182 mulheres (17 grávidas) e 173 crianças, executados por soldados do Exército dos EUA. Dezenas de mulheres que escaparam da morte sofreram estupros múltiplos, no maior massacre de civis cometido por tropas americanas durante a Guerra do Vietnam.

Dois anos depois, o comandante responsável pelo brutal massacre foi parar nos tribunais, onde soldados dos EUA foram indiciados pelos crimes de guerra ocorridos em My Lai.

Conclusão: o julgamento condenou à prisão perpetua apenas William Calley . A pedido do presidente Richard Nixon, ele foi libertado poucos dias depois de começar a cumprir a pena.

Os jornais comparavam o caso com o ocorrido em Lídice e em Oradour-sur-Glane, durante as campanhas nazistas, aproximando o fato de um genocídio.

Por que vejo paralelos entre o massacre de My Lai e o de 7 de outubro ? (era isso que encasquetava meu amigo).

Para pegar o fio da meada é importante destacar que desde 1776, após a vitória definitiva sobre as forças da coroa britânica, as treze colônias americanas conquistaram sua independência e se transformaram em estados independentes. Todas essas colônias viviam tradição, costumes e histórias similares com diversos pontos em comum: língua, leis, religião e objetivos.

Essa característica facilitou o consenso de união entre as comunidades o que, num primeiro momento, viabilizou a ideia de Confederação que, mais adiante, se consolidou no federalismo moderno e na consagração do Direito Constitucional que rege essa nação até os dias de hoje.

A ONU credencia a Palestina como um “Estado Observador Permanente”. Esse estatuto, puramente formal, lhe permite participar de todos os procedimentos da organização, exceto a votação de resoluções e decisões em seus principais órgãos e instâncias, desde o Conselho de Segurança até a Assembleia Geral e seus seis principais comitês.

Seu reconhecimento enquanto Estado não é uma unanimidade entre os países da ONU.

O governo dos territórios, em tese, deveria ser exercido pela a Autoridade Nacional Palestina, uma extensão política do Fatah. Porém, em 2007, o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza após derrotar o Fatah numa guerra civil, o enxotando para Cisjordânia, de onde Mahmoud Abbas, afirma categoricamente que “as políticas e ações do Hamas não representam o povo palestino”.

Esse quadro é um registro da dramática e radical divisão dos grupos que lutam pelo controle da região.

No tocante às leis, qual é a Lei da Palestina que determina punição contra massacres e violações dos direitos humanos, praticados por suas forças paramilitares?

O estatuto legal do Hamas é o Islã!

Nesse contexto, para fazer tremular a bandeira de Alá sobre cada centímetro da Palestina, exterminar quem o viole e defender a retomada total da Palestina – com alvo prioritário em Israel e Jerusalém– para erguer as bases de um império islâmico, não impor limites civilizados e legais aos seus soldados, é uma ordem, ainda que a palavra “ordem”, nesse caso especifico, é uma aberração.

Como a organização não está disposta a ceder nenhuma parte dos seus dogmas e direitos celestiais sobre o território palestino, condenar massacres terroristas, controlar e punir a barbárie e a sede de sangue dos seus soldados e mesmo ceder à soluções pacíficas, propostas por órgãos internacionais, não é uma opção desse grupo.

Portanto, a barbárie do Hamas é considerada por seus executores uma missão divina.

Por isso aproximo o ‘7 de outubro’ a uma chacina genocida.

Os ativistas pro-Hamas, da banda ocidental do mundo, podem camuflar suas investidas como atos humanitários(?) justificáveis, o que de fato é conivência com brutais massacres, violações dos direitos humanos e normalização da barbárie.

Voltando a May Lai.

A condenação do tenente William Calley, foi uma representação macabra. Mais o fato de um julgamento ter acontecido e as denuncias da imprensa internacional apontarem a responsabilidade do estado americano, criou um paradoxo insustentável no que diz respeito aos crimes hediondos cometidos pelo Hamas.

As turbas que apoiam essa organização terrorista estão, de fato, relativizando barbárie e fechando os olhos para o genocídio.

As trágicas consequências que surgirão com a normalização desse tipo de crime, são imprevisíveis.

A selvageria das guerras incitam o que há de pior na espécie humana. Por mais nobres que sejam os motivos que levam a uma guerra, a liberação de graves crimes contra a humanidade, abre os portões do inferno.

Pra finalizar minha argumentação, “Apocalipse Now”, do Coppola, após a série de pinturas do Goya, “Os fuzilamentos” de 1808, é a mais densa, poderosa e inigualável obra cinematográfica sobre o Terror que incita a demência selvagem dos indivíduos liberados para a destruição.

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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