24 de abril de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

Raposas, uvas, vinhos e lagostas

Foto: Google Imagens – Jornal Contábil

Não se registra, até o momento, nenhum contagio alérgico à glúten e excessos gastronômicos, em escala viral, que preocupe a comunidade dos glutões.

Fatos recentes se encaixam e formam um mosaico inteligível.

Desde que o STF deu inicio à implosão da Lava-Jato, não me surpreende que aquela instituição expandiria abertamente seus domínios para o campo extrajudicial. A Lava-Jato, que durante cinco anos ergueu uma coluna base para o judiciário conectar suas ações com os nobres desejos da sociedade por uma justiça equânime, foi rapidamente, em menos de cinco meses, implodida pelo STF.

Os escombros de um feito jurídico histórico, comparável ao clamor das Diretas Já, em escala mais empolgante, tendo em vista que se estendeu por toda a nação, sendo várias vezes mencionada com mérito pela imprensa internacional, foi esvaziada como um balão de gás. Se reduziu a cacos.

Tornaram-se processos avulsos intermináveis e, seguindo a nefasta tradição do Judiciário, mofam nos arquivos de tribunais em Brasília, berço do desfazimento.
Corruptos poderosos foram confrontados com montanhas de provas; processados, julgados e condenados.

Esses processos acenderam a chama da esperança do brasileiro em ver brotar a semente de uma arvore sólida, plantada sobre o solo da segurança jurídica, algo absolutamente revolucionário no país.

Todavia, depois da implosão, com o baixar dos fragmentos e sobre o entulho da Lava-Jato o que se viu foi o STF reintegrar os condenados à vida pública.

Para acrescentar frustrações e maior constrangimento aos cidadãos que viam a Lava-Jato como uma esperança de avanço cultural de grande impacto social, alguns procuradores, promotores, investigadores e juízes, antes combativos em suas funções, se tornaram bibelôs da mídia.

Alguns se arvoraram em comentaristas políticos nas redes sociais, demonstrando, mais uma vez, que exercer com competência e dedicação uma função, não torna uma pessoa habilidosa e preparada para as complexas questões no território político onde são neófitos e presas fáceis das velhas raposas.

Ainda que respeite e agradeça o penoso trabalho desses homens da justiça, meu sentimento é de profunda tristeza e frustração ao deparar com a estrondosa vitória do patrimonialismo sobre a Justiça.

Hoje, ainda atordoado com a ressaca moral vigente, me dá engulhos ver pessoas, como pintinhos de galinheiro, alimento preferencial das velhas raposas, replicando em piados miméticos as ‘certezas’ dos togados sobre a segurança digital de uma urna de primeira geração, aditivada pelos ‘gênios’ nativos da informática do TSE.

Replicarem como robôs programados a ‘defesa da democracia’ , segundo o mantra dos togados, sem sequer serem molestados pela dúvida sobre os parâmetros científicos editados pela Suprema Corte para o enfrentamento de uma pandemia que botou o mundo científico real ou seja, aquele mundo que se dedica ao conhecimento especifico, imerso em dúvidas e incertezas.

Para finalizar; a sutil trama que reveste a memória tem profundas relações com os sonhos.

A neurociência é o campo do conhecimento que vasculha as complexas interações da mente humana. Não é necessário estar em estado de alerta para entender os impulsos que nos levam a desejar intensamente uma coisa.

Em sonhos, nossa mente recorre à memória para montar espetáculos sensoriais, às vezes paradisíacos e outras vezes apavorantes.

Em paralelo à realidade e suas limitações, a memória e os sonhos se fundem para nos proporcionar sensações que nos embalam,enchem de sentido nossa existência e sedimentam nossas dúvidas.

O pesadelo acontece quando instituições do Estado se arvoram a programar nossos sonhos e moldar nossos desejos.

O Boletim

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