19 de abril de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

Patriarcado Federativo do BRivotril

Ao norte a Linha do Equador, ao sul o Trópico de Capricórnio, encontra-se o Patriarcado Federativo do BRivotril.

Lá existe um feudo que esbanja alegorias políticas.

Subdividido em castas distintas, vive um povo que aparentemente fala a mesma língua mas nunca se entende.

Há 35 anos a dinastia militar chegou ao fim e saiu do poder. Desde então uma ‘nova’ dinastia assumiu e se consolidou no poder. Essa ‘nova’ dinastia é um mix de duas castas que controlam o país.

A casta política, abrigada no Congresso Nacional, Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais e a casta do alto funcionalismo público, espalhada em diversos setores e por várias regiões do Patriarcado.

Essas castas detém 13,7% de tudo que o país produz (PIB).

Enquanto a base social (aldeões) recebe apenas 6% para fingir que tem estrutura educacional e 3,9% para um sistema único de saúde que a única coisa que pode fazer é festejar quando o sistema, historicamente deficitário, não é pressionado por epidemias importadas, além das epidemias correntes.

É bom frisar que membros da ‘alta casta’ política e funcional, evitam ir para o sistema público de saúde.

Qualquer resfriado logo recorrem aos mais caros hospitais da rede privada, com tudo pago pelos aldeões.

Estudos informam que em 2019, o contribuinte destinou 930 bilhões para pagar servidores públicos federais, estaduais a municipais.

De 93% das despesas obrigatórias, 65% são destinados ao gasto com salários e aposentadorias.

Com toda essa belezura, a casta política, aliada aos maganos supremos, fala que esse custo é pouco, diante do tanto que fazem em proteção à democracia e ao aldeão.

Esse conjunto de fatores cria um diferencial estupendo entre entrada e saída de recursos (tributos) e dá origem a um fenômeno que os tecnocratas chamam de desequilíbrio fiscal.

O aldeão, acometido por desequilíbrio emocional, tenta se equilibrar na corda bamba, consumindo doses cavalares de Rivotril, produto importado que se tornou tão importante para o país quanto o ‘Pau Brazil’ foi para os colonizadores.

Para evitar mais um colapso econômico,alguns cidadãos torcem para que reformas necessárias sejam urgentemente votadas. Porém, a casta política não demonstra igual interesse.

Assim, as propostas são debatidas incansavelmente. Quando algo surge fora da curva, congressistas apelam para a casta suprema,onde – no momento – um processo sobre perdas humanas e materiais,decorrentes do ataque de um submarino alemão na segunda guerra mundial, afundou uma embarcação de pescadores brasileiros.
O processo, arduamente debatido no STF, finalmente parece estar perto de ‘transitar em julgado’.

É claro que frente a tamanha urgência, uma proposta de privatizar dois ativos da empresa estatal de petróleo, a fim de amenizar o desequilíbrio fiscal, se torna matéria secundária e os ministros da casa votam lentamente – até o momento três votaram contra – em ritmo das calendas gregas, um tema crucial para a economia.

Se prevalecer a tendência de negar essa alternativa, o processo retornará para o Congresso, reeditando o ping pong parlamentar.

Aldeões mais esclarecidos sabem que bombardear governo é só cortina de fumaça para repercutir na mídia.

No patriarcado, governos dificilmente perdem. Sempre podem negociar pontos específicos de interesses, alheios às necessidades públicas.

Por isso, os aldeões chamam essas práticas de SABOTAGEM contra o país, tendo em vista que caso o governo não consiga recursos adicionais através de privatizações e redução de custeio da máquina pública, recorrerá ao aumento de tributos para não cair na esparrela de violar a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Os resistentes terão então o saldo que lhes agrada.

Mais tributos, pressiona a economia popular, atinge o preço do pão,criando ambiente propício para o desgaste do governo.

Um dos efeitos da estratégia do Patriarcado BRivotril é impor mais sofrimento ao aldeão na premissa de que assim desgastam o governo e ganham mais espaço político, quando – na verdade – estão afundando a nação
Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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