19 de abril de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

Meu afilhado André

Ontem, retornei ao Rio, após um fim de semana tranquilo, cercado de amigos queridos.

Diante de tantas restrições, medos e angústias coletivas, se deslocar da cidade para ir comemorar os 35 anos de vida do meu afilhado André,f oi um sopro de  alegria em tempos tão sombrios.

Na ocasião, eu receberia das mãos do aniversariante seu livro de poesias mais recentes.

É claro que nem tudo é perfeito. A editora não entregou os exemplares a tempo. Felizmente, não voltei de mãos vazias. Ganhei um exemplar virtual da Prova Final.

Carinho maior eu não poderia receber.

As reproduções escolhidas para essa publicação são obras de minha autoria, realizadas entre os anos 1974/76, em Paris, quando eu era mais novo do que o André é hoje. A foto de nós dois, acima, é do seu aniversário de 30 anos.

Éramos cinco anos mais jovens. Afinal, o que é o tempo para quem há 35 anos estava ao lado dos  pais no dia em que o André nasceu. Para mim tempo é dádiva, plena de significados, afetos e lembranças.

As imagens a seguir são das obra acima mencionadas:

Dos 89 poemas, foi difícil para mim escolher  uns  poucos para compartilhar aqui.

INTENSIDADES LIGEIRAS
1

Ainda
está em silêncio
enquanto há certeza.
É muito,
é pouco
nessa intensidade ligeira.

2

No princípio, no começo,
no meio e no final.
Ontem, hoje e amanhã.
Realizei o agora
e o presente
e o depois.
Seguindo as perguntas,
comprometo as respostas,
para elaborar as cenas,
porque elas têm tradução,
mas introduzem conhecimentos
sobre as diferenças de nós dois


TEMPORALIDADE

Os meus dias e dias
misturam marcas de amor
e paixão.
Os meus tempos
de hoje em dia
são inconstantes emoções.
A maioria dos dias e das noites
é plena em toda
estação.
E quem diria que, um dia,
o nosso fosse virar
canção.
O tempo passa, mas não passa essa vontade de
você.
Horas, minutos e segundos se arrastam, só para
a gente ser um só

JOGO  DA IMAGINAÇÃO

O laptop avalia correspondências.
Sempre será uma caixa de textos.
Assim como escrever é aberto,
sonhando aquele momento da imaginação.
Fazer o download da minha impressão,
nessa caixa de texto,
é ler memórias.
Abrir as réguas e a proteção,
novamente inserindo as referências da partilha,
pois é substituível localizar,
espalhando alterações.
Imprimir relembranças neste papel,
que é verdadeiro
mas que é por inteiro
humano.

O AMOR PERDÍVEL

Descubra o que estou sentindo,
o que estou adivinhando.
É um segredo feito água,
desaparecido.
Nuvem se arrastando, recuando.
Você está armado,
atingiu minha cabeça em cheio.
Dentro, há a confusão.
No canto silencioso,
uma prisão me sufoca.
Mas traz segurança.
Há uma procura, uma busca
aliviando as marcas, os traumas.
O amor perdível.

PASSO A PASSO

Traz uma roupa quente, sua.
As lágrimas caem e gelam
o corpo sentindo as ações
e reações que se encontram
e grudam na minha pele quente,
deslizando nos descabidos do seu armário,
as minhas necessidades.

MANUAIS DE COMPOSIÇÕES
1
Revestir andares.
Cobrir edifícios.
Abrir as portas elevadas das vidraças.
Ser próprio.
Ser comum.
Responsabilizar.
Conviver realmente a relação.
Discutir independência.
Conversar com argumentos.
Simplesmente verbalidades:
veracidade de sentimentos.

2
Manuais de composições são coisas que comunicam
dentro das minhas faculdades.
O que fazer?
O que dizer?
O que falar?
Coisas simples que estão à sua volta
dividem instrumento,
comunicando conteúdo.
Com outras pessoas, desejo mais, principalmente
os diários e os cadernos
de rascunhos pautados.
Com rabiscos desenhados,
do que ficou pra trás.
Algo.
Muito mais

DESERTO QUIETO

O animal alado
sobrevoa quintais.
Ele estrela galáxias em constelação,
adormece a lua,
aprofunda o cerco da natureza,
traz claridade
ao céu, ao mundo.
O animal alado pousa nas árvores,
florescendo as cores.
Ele amanhece o sol.
No jardim,
há luz decorando as sombras.
As horas guiam, abrem o universo.
Firmamentos.
Asas sobrevoam camuflagens,
anuviando tempestades fenomenais.
O animal alado faz anoitecer,
solta livremente depressa e devagar
madrugadas frias,
cobre os tetos, os espaços,
preenche o tempo

2
Você e eu
quando estamos perto,
me sinto no deserto tranquilo,
no deserto quieto,
desenhando os buquês de flores
coloridas

O poeta agradece:
“este livro é dedicado à minha mãe e à minha avó Neusa Neves da Silva Santos, com quem, brincando, fiz muitas e muitas rimas. Agradeço a Renata Vescovi, pelo incentivo à publicação de meus poemas, e a Anne Ventura, pelo tanto que me ajuda no meu processo de escrita.”

*A imagem de capa e todas as  obras reproduzidas no livro são de 1974/1976 [Paris) em suportes e técnicas diferentes.Algumas em bastão pastel óleo sobre cartão.Outras são colagens com material de encadernação sobre cartão usado para esse fim.
Todas  pertencem à Coleção Marcio P Espindula. As fotos são do Jaime Acioli


A seleção aleatória das reproduções se ateve ao numero de poemas do André aqui postados.

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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