Sim, eu já menti. Já disse para meus filhos que Papai Noel, Coelho da Páscoa e Fada do Dente existiam. Já disse ao chefe que estava doente para faltar ao trabalho (poucas vezes, mas fiz). Já fingi falar ao celular à noite para evitar ser abordada por estranhos. Já falei ao professor que tinha perdido o livro com a lição de casa para não “perder ponto”, mas nunca menti amor ou identidade. Nem tão pouco menti amizade. Se gosto, gosto. Se não gosto, o meu olhar me denuncia. A falta de sorriso também.
A maior mentira, porém, é aquela dita para justificar um erro. Nossa consciência e coração sabem o que é melhor, o que é certo, e quando fazemos o oposto, eles nos reprimem e nos impulsionam para o caminho certo. Igualmente nocivo, quando somos motivados por algo que não é certo, mentimos tantas e tantas vezes que acabamos por acreditar nas próprias fantasias. Muitas vezes, queremos tanto alguma coisa – e por tanto tempo – que não paramos mais para pensar no porquê e nem para quê.
Por que queremos tanto aquele emprego, aquela roupa, aquele carro, aquele celular novo, aquela viagem, aquela pessoa!? O que pretendo fazer quando o conseguir?
Ganharia mais dinheiro com aquela promoção ou simplesmente estou me sentindo inferior àquela pessoa que foi promovida? Quero me vestir melhor porque minhas roupas estão velhas, ou apenas invejo o estilo do outro? O modelo novo do celular me dá realmente mais vantagens ou não quero ficar por fora da tendência? Sempre tive vontade de conhecer o Japão ou é apenas porque vai ser legal contar sobre uma nova aventura? Sou apaixonada por aquele pessoa ou é apenas uma frustração antiga ou ela é a mais cobiçada do momento? Eu não peço desculpas porque o erro foi do outro ou porque eu não quero admitir a minha própria culpa?
São inúmeras as situações e desculpas que inventamos a nós mesmos para justificar um desejo ou uma atitude. Estas mentiras são nocivas mais a quem as diz do que ao outro, pois força alguém a se tornar outra pessoa, vivendo os desejos de um fantasma interior.
Os sete pecados capitais vestem a mentira como uma luva e, dentre eles, o meu favorito (e o do Diabo também, já dizia Al Pacino): a vaidade, também conhecida como soberba ou orgulho. É ela, a vaidade, a rainha de todos os sentimentos, que nos leva a desejar e a agir de modo contrário ao que deveríamos ser e querer. Ela nos leva à discórdia, à arrogância, à ira, à gula, à loucura! Pela vaidade, olhamos apenas para o que não temos, não para o que nos falta de verdade (se é que algo, verdadeiramente, nos falta).
Somente quando começamos a pensar com a verdade – e não com o ego – é que nos damos conta da redoma que criamos em volta de nós mesmos impedindo-nos de conquistar o nosso verdadeiro caminho, aquilo que é verdadeiramente de cada um.
A vaidade usa da nossa voz, gestos e olhares. Usa do nosso cérebro e nos faz cobiçar aquilo que não precisamos e nem está no nosso caminho verdadeiro.
E é fácil saber quando o desejo é real ou por vaidade, mas não cabe a mim dizê-lo. Cabe apenas a você, em seu coração, despido de vaidade, responder. Então… ssshhhh… fique em silêncio e ouça, não apenas ao seu coração (porque este é mimado, birrento e ciumento), mas também ao seu íntimo, à sua alma, aquele lugar onde você guarda os seus mais altos valores. Aí, então, pergunte a si mesmo: por quê? Para que? E você vai se assustar ao perceber quanta mentira tem dito a si mesmo. Ou não. Cabe apenas a você e à sua consciência admitir.
Se serve de consolo, faço este exercício diariamente e, confesso, já exorcizei várias mentiras de dentro de mim. Somos todos humanos, afinal…