18 de outubro de 2024
Sylvia Belinky

Dos serviçoes do Uber: etarismo II

Como esclareceu meu filho, os motoristas do Uber não se consideram como tal, ainda que toda uma praxe deva ser seguida e que, a meu ver, os equipararia a motoristas de táxi com menor “elasticidade”…

Aliás, esta assertiva me deixou bastante intrigada já que, bem antigamente, ser motorista não era desdouro algum.

Além de ser uma profissão que a criatura que a exercia tinha diversas “qualidades obrigatórias”: além de ser gentil e educado, devia dirigir bem, conhecer os itinerários da cidade (uma proeza em termos de São Paulo anterior ao advento do Waze…), e ser de confiança total para poder levar valores e crianças, sem susto!

Os “uberistas” de hoje, de modo geral, dirigem bem e minha experiência pessoal como vítima potencial de etarismo, é que podem ser muito gentis (normalmente, os que se lembram que têm mãe e não são produtos de chocadeira), divertidos, com histórias de vida muito ricas.

O sacolão, onde faço compras de frutas e verduras, fica razoavelmente perto da minha casa, mas não tão perto que dê para voltar sem carro, o que é o meu caso.

A corrida, normalmente, não passa de R$ 20,00, que costumo acrescer de mais 5 ou 10, dependendo da gentileza.

Nesse dia específico, chega um sujeito já próximo dos sessenta, pelo menos de aparência.

Por gentileza, e para não ficar esperando indefinidamente que ele se digne a sair do carro, chego até sua janela e digo: “Estou com compras. Você leva?”

Resposta, sem mesmo me encarar: “Levo, mas não encosto a mão nela. A senhora tem quem carregue? “

Respondi que sim e, de fato, atrás de mim, vinha um rapaz, funcionário do sacolão com as compras.

Ao me afastar, para que ele abrisse o porta-malas, ele não teve dúvidas, pisou no acelerador e me largou no sacolão.

Provavelmente, chegou à conclusão que teria que me ajudar na chegada em casa, avaliação digna de suas limitações evidentes.

Semelhante a esse desqualificado, a quem fiz questão de denunciar por etarismo, uma gorducha, cuja bunda devia pesa muito, pois sequer saiu do carro para me ajudar a segurar o carrinho com as compras, enquanto eu mesmo as colocava no porta-malas – duas pessoas, que passavam na rua, o fizeram.

Esperar um Uber para uma distância pequena requer bastante tempo de paciência, já que estamos sempre sujeitos às desistências, sendo dispensados no meio da espera por surgir uma corrida mais conveniente.

Já tive o desprazer de esperar por mais de uma hora e ser dispensada no meio da espera.

Enfim, quando optei por não ter carro, e mudei para um local onde só temos um supermercado que cobra, como é de se esperar, de duas a três vezes mais pela facilidade de estar perto. Não imaginei que teria de conviver com um serviço tão necessitado de melhorias.

Tenho histórias deliciosas com vários desses motoristas:

O Fernando, um rapaz para quem, saindo do condomínio onde moro, pedi um carona por confundi-lo com um vizinho. Ele não só me levou aonde eu precisava ir (no mesmo sacolão de sempre), como fez questão de não me cobrar quando eu descobri que era um Uber, dizendo: “Passe adiante este favor! ”

O Alain, a quem a mãe deu o nome do francês mais bonito do mundo, e que, quando comentei o fato com ele, sua alegria, por eu o chamar com a entonação correta, foi marcante.

Mais um com nome francês, o Romuald, um argelino, que veio para o Brasil há três anos e fala um português impecável, com quem comentei sobre uma canção francesa premiada num antigo festival internacional, com um cantor seu xará. Quando eu disse o nome da canção, ele me contou que era da África e viemos conversando até em casa em francês.

O Uber contrata seus prestadores de serviço e, ao final da experiência, manda uma mensagem perguntando quantas estrelas lhes damos e, você, das duas, uma: ou dá cinco estrelas ou, se tiver qualquer restrição como ouvir rádio no último volume com músicas sertanejas ou de bêbados cornos, vai ter de explicar com detalhes o porquê de quatro e não cinco estrelas.

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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