28 de março de 2024
Walter Navarro

Seja marginal seja herói


O título desta crônica é do artista plástico Hélio Oiticica.
A frase veio visitar, enquanto acompanhava mais uma vergonha absurda do Judiciário brasileiro: “STJ DECIDE POR UNANIMIDADE SOLTAR TEMER E CORONEL LIMA”.
Temer, o duplo vice de Dilma. Dilma, a dupla criatura de Lula. Lula, venerando hóspede do Estado em Curitiba, há mais de uma ano.
Hélio Oiticica era doidão, um maluco beleza. Gosto dele.
Hélio é filho do grande fotógrafo José Oiticica Filho.
O pai ensinou ao filho, que nada na vida é passível de impossível. Que o tal do “não pode” não existe. Tudo pode.
Hélio morreu tragicamente, aos 42 anos, em 1980, de um AVC, no Rio de Janeiro, onde nasceu.
Em 1992, vi a primeira e única exposição de Hélio Oiticica, em Paris. Enorme e deliciosa retrospectiva no museu Jeu de Paume. Salvo engano, a exposição começou em Roterdã, na Holanda, depois foi para Paris e terminou em Nova York. Para variar, a mostra não teve recur$os para chegar ao Brasil.
Gostei muito de conhecer seus famosos Parangolés e Penetráveis. Em especial a série Cosmococa – que pode ser vista em Inhotim, não sei se completa – que Hélio criou em parceria com Neville D’Almeida, quando morava em Nova York, anos 1970.
Cosmococa é famosa. A mais ilustre da série é uma foto de Marilyn Monroe, com sobrancelhas e bigode feitos com cocaína.
Pois bem, voltemos ao que interessa, Temer e o título deste texto.
Chupando o Google, pesquei isso para vocês: “Hélio Oiticica frequentava a Mangueira e conhecia o mundo da marginalidade. Dentro de uma lógica de transgressão de valores burgueses, tinha certo fascínio pelos tipos marginais e malandros. Cara de Cavalo, acusado de matar um policial, foi uma das primeiras vítimas do esquadrão da morte carioca, em outubro de 1964. Esta obra é marcante no movimento chamado de marginália ou cultura marginal, que passou a fazer parte do debate cultural brasileiro, a partir do final de 1968, durando até meados da década de setenta. O artista foi acusado de fazer apologia ao crime. A marginalidade é considerada uma forma de transgressão dos valores conservadores e burgueses, identificados com o regime militar, aliado à idealização do mundo do crime, como mundo produzido pelas contradições da sociedade”.
Precisa desenhar com cocaína não, né?
De quando em vez, navegando meus delírios tropicais, sem querer invoco a ideia e digo para pasmo da nação: “Se eu fosse favelado, claro que seria traficante ou terrorista”.
Realmente é um delírio. Traficantes e terroristas acabam presos ou mortos.
PS: Seja marginal, seja herói, mas antes, proteja-se, seja político no Brasil.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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