24 de abril de 2024
Walter Navarro

Próxima estação, Futuro


E de repente, 2014.
2013 foi sodinha! Sodinha no aumentativo. Que ano bom pra se esquecer.
Onde eu tinha parado mesmo? Ah! No último capítulo eu havia escrito:
“Hoje, 12 de dezembro, Belo Horizonte completa 116 anos de pura travessura. Ou seria Travessia? Então cai bem eu continuar a crônica anterior, ‘Próxima estação, Futuro’. Quem leu ou se lembra, o assunto era o livro ‘Próxima estação, Paris – Uma viagem histórica pelas estações do metrô parisiense’, do francês Lorànt Deutsch.
Em suma, a história de Paris através de 21 séculos refletidos em suas ruas e estações de metrô. Lembrando que Paris tem mais de 2000 anos: muita história pra contar. Por exemplo, sabem por que a estação da Torre Eiffel, Champs des Mars (Campo de Marte) tem este nome? Porque foi lá que os franceses, os ancestrais gauleses; perderam bravamente uma batalha para os romanos, donos do mundo. Em homenagem aos corajosos vencidos, Roma os homenageou com o nome de seu deus da Guerra, Marte. Muitos franceses, e ainda mais turistas, que visitam a torre, não sabem que pisam sobre verdadeiros guerreiros, depois de sangrenta luta”.
Pronto, aí vieram e acabaram minhas curtas festas de fim de ano e as férias.
Natal em Barbacena, Réveillon no Rio e tome BH de volta, agora, com quase 117 anos. Pois dezembro está chegando…
Carnaval, Copa do Mundo, eleições: vocês vão votar em quem? No Rei Momo ou no Neymar?
Bom, vamos ao que interessa agora. A continuação da crônica sobre o metrô que não temos.
Mas imaginemos que tivéssemos. Seria legal contar a história de Belo Horizonte, como a de Paris, através de suas ruas e suas estações de metrô.
A grande diferença, é que, enquanto Paris tem 21 séculos pra contar, nós só temos um. Mesmo o Brasil só tem cinco.
Qual poderia ser a estação primeira de Mangueira em nosso metrô? Curral Del Rey? Nome horroroso, né?
BH foi inventada, é contemporânea da Abolição da Escravatura e da Proclamação da República. Que tal, estações lembrando então nossas origens, como Princesa Izabel, José do Patrocínio ou Marechal Deodoro? Nada a ver. Vai ver eles nunca nem passaram perto daqui. No mais, estes três nomes já estão instalados no Rio de Janeiro, “comme Il faut”.
Há uma coisa legal em BH. No centro temos várias ruas com nomes de tribos indígenas. Elas inspiraram os irmãos Lô e Márcio Borges, em “Ruas da Cidade”:
Guaicurus Caetés Goitacazes Tupinambás Aimorés
Todos no chão
Guajajaras Tamoios Tapuias
Todos Timbiras Tupis
Todos no chão
A parede das ruas
Não devolveu
Os abismos que se rolou
Horizonte perdido no meio da selva
Cresceu o arraial
Passa bonde passa boiada
Passa trator, avião
Ruas e reis
Guajajaras Tamoios Tapuias
Tupinambás Aimorés
Todos no chão
A cidade plantou no coração
Tantos nomes de quem morreu
Horizonte perdido no meio da selva
Cresceu o arraial.
Bonita, né? Passa bonde, passa boiada, passa trator, avião… Menos metrô.
Morei no centro, quando vim pra cá, em 1985. Minha primeira rua foi a… Timbiras, entre Rio de Janeiro e São Paulo. Ah! No mesmo centro temos nomes de alguns estados do Brasil. Avenida Amazonas…
No Sion, onde moro atualmente, os nomes são de países e capitais da América do Sul. A minha é a Peru!
Mesmo assim, descer ou subir na estação Peru não deve ser das coisas mais agradáveis. E o Sion nunca terá metrô. Pelo menos neste século. Metrô em BH é urgente, é para existir onde a população é maior, onde mais precisa e circula gente. Meu bairro é muito residencial. Nem de horríveis ônibus ele é bem servido. Não é o caso de Paris onde todos os bairros são servidos democraticamente; claro, um com estações pequenas, outras gigantescas.
Na Savassi, onde trabalho, as ruas homenageiam os estados do Nordeste e os inconfidentes.
Foram boas ideias que poderiam ou não inspirar o nome das estações de metrô. A gente só não pode entregar o ouro para certos vereadores que batizaram bairros como Gorduras, Regina e por aí vai.
Mas já temos a Praça da Liberdade, cuja estação, certa e obrigatoriamente, deveria ter este nome. Mas e as outras? Em vez de Bahia, na rua da Bahia, a estação poderia se chamar Pedro Nava, um seu frequentador; ou levar o nome de um de seus livros: Baú de Ossos, Círio Perfeito.
Mesma coisa nos cenários que abrigaram Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende.
Mas que grandes acontecimentos aqui ocorridos ou personagens históricos batizariam outras estações de metrô? Tiradentes? Aleijadinho? Pelé?
12 de dezembro seria um bom e óbvio nome!
E tocaia? Pão de queijo? Clube da Esquina? Entenderam o espírito de porco da coisa?
E a estação Bom de Mais da Conta?
E a Uai?
Travessia, Ary Barroso, Ivo Pitanguy, Barbacena…
Que tal Soucasseaux, o primeiro teatro da cidade, na mesma rua da Bahia? E Footing, lembrando o tempo do andar, do passeio da paquera entre os jovens dos anos mais antigos do nosso passado?
E os antigos clubes como o Rose, o Violetas, Jardineiros do Ideal, Santa Rita Durão, Elite, Diabos de Luneta e os Diabos de Casaca? Nomes simpáticos, não?
Bom, a ideia está lançada e o texto já ficou grande demais; beijos e queijos.
PS: Enquanto isso; fiquem com os cines-teatro de outrora: Colosso, Comércio, Familiar, Progresso, Bijou e… Paris.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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