19 de abril de 2024
Walter Navarro

Os plásticos e os cigarros não vêm de Marte


Ontem, escrevendo sobre “artes e coisas plásticas”, consegui defender o indefensável.
Comecei, despretensiosamente, lembrando que o problema do Nordeste é não ter piscina, como cantava o Eduardo Dusek, antes de virar Dussek.
Hoje, dá pra completar. O problema do Nordeste é ter os políticos e coronéis que tem. Isso, sem falar dos artistas que saem de lá, pra ficar, no Rio de Janeiro e São Paulo, cantando “Ai que saudades da Bahia”, Pernambuco, Paraíba, Ceará. Aliás, os artistas mineiros fazem a mesma coisa. Nossos políticos também.
Pensando bem, como dizia o baiano Caetano, que agora se mete em Política: “Política é o fim” e isso serve para o Brasil inteiro.
Ainda me lembro da banda Paralamas do Sucesso, gritando nos anos 80 ou 90 sobre a Câmara dos Deputados: “Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou, são 300 picaretas com anel de doutor”.
Só rindo… Logo ele, Luiz Inácio, o chefe de todos os picaretas. E bota 300 nisso. Deputados que manejam com maestria uma picareta são 513… 13! Senadores, 81… 171!
Na esteira do Nordeste, escrevi, sempre ontem que, o problema dos ecologistas é o exagero, com cheiro de mentira.
Alguns e muitos xiitas pregam, gritam que as sacolas de plástico levam de 100 a 400 anos para se decompor…
O plástico sintético foi criado em 1907. Presumo que as sacolas plásticas vieram muito tempo depois. Digamos que chegaram em 1919…
Aí pergunto. Quem ficou vigiando uma sacola plástica se decompor durante 100 anos? E 400?
Brincadeiras à parte, contei também que meu pai morreu em 2001. Herdei todas as coisas inúteis dele, de ferro velho pra baixo e adorei. Desde antes, sou o maior reciclador de coisas e pessoas.
Ano passado, no “quartinho” do meu pai, achei uns parafusos e pregos enferrujados, dentro de uma sacola de plástico. Ao tocá-la, ela dissolveu-se na minha mão. Parecia papel podre.
Meu pai não morreu com 100, muito menos aos 400 anos, então, aquela sacola, que desmanchou-se sozinha, tinha, no máximo, 20 anos.
Assim, imaginem uma sacola no mar, com o sal do mar etc… Como pode durar séculos? Não entendo.
Porém, todavia e cotovia, de uma coisa tenho certeza, uma coisa eu sei: o problema do meio ambiente não vem do plástico, mas do idiota que joga sacolas e lixo no mar.
Deveriam jogar garrafas de vidro, com mensagens bonitas, declarações de amor, um pouco de saúde na loucura.
Enquanto isso, como diria Leila Diniz, grávida na praia: “brigam Espanha e Holanda pelos direitos do mar. O mar é das gaivotas que nele sabem voar”.
Isso foi ontem. Hoje quero ser advogado de outro diabo, os tocos, guimbas de cigarro.
Há muito, os cigarros e os fumantes são como o Bolsonaro e os mordomos, culpados de tudo.
Uma das lendas favoritas jura e afirma que os enormes incêndios nas matas surgem de tocos de cigarro aceso, jogados pela estrada afora.
Claro, pode acontecer, como um piano de cauda cair sobre mim agora. Mas, já prestaram atenção em como é difícil um náufrago fazer fogo, uma fogueirinha, numa ilha deserta, sem fósforo ou isqueiro BIC, esfregando dois pedaços de madeira em mato seco?
Aprendi isso aos sete ou oito anos, no Manual do Escoteiro Mirim e nunca consegui. Tadinho de mim! O máximo foi ganhar farpas e calos nos dedos.
Por isso, repito aqui o desafio que fiz na casa de uma querida prima, rodeado de testemunhas.
Para defender o cigarro, afirmei: “vou apertar um, mas não vou acender agora”. Mentira. Falei, “vou acender um cigarro e colocá-lo sobre esta folha de jornal e vai acontecer nada”.
Não deu outra. O cigarro ficou lá e mal manchou a folha do jornal. Nem assoprando sobre o dito cujo.
É como o famoso isqueiro Zippo, ainda mais famoso por acender sua chama até mesmo nos ventos de uma tempestade em alto mar, durante a 2ª Guerra Mundial. Lenda!
Repito, pode até acontecer, mas juro, um cigarro, não é um lança chamas no matagal seco. Nem lareira ele consegue acender, com jornal e lenha fina. Já testei também. Haja álcool!
E termino com outra defesa dos fumantes. Há coisa de 20 anos ou mais, fumantes são como leprosos, todos evitam e têm nojo.
Existem mil leis restritivas ao hábito tabagista. A intolerância é total. Vai de mãos abanando a fumaça aos mais terríveis xingamentos e sanções.
Você não pode, claro, fumar dentro de ônibus e aviões, como nem assaz alhures e antanho. Mas não existe lei contra CC de gente fedorenta, gente perfumada demais com loções vagabundas, flatulências com teor de guerra química; entre outras fedentinas.
Tudo bem! Acontece que a fúria contra aos fumantes e suas fumaças não acontece contra coisa muito pior e abundante no Brasil, o escapamento de ônibus e automóveis.
Nunca vi ninguém reclamar. Nunca vi nenhuma lei multando estes gases 1069 vezes mais nocivos.
Uma vez, na rua do meu apartamento, ao sair do supermercado, vi um caminhão estacionado e tentando dar a partida sem conseguir. Algum problema mecânico, certamente. O detalhe é que, enquanto o cara apelava para o motor funcionar, o cano do escapamento jogou uma fumaça tão negra e densa que, juro de novo, escureceu a rua.
Não vi ninguém chamar a polícia. Mas tentem acender um cigarro no cinema, num restaurante ou bar…
PS: Parceiro de Tom Jobim, pelo menos nisso, meu espaço favorito no Rio de Janeiro é o Jardim Botânico, OK? O Jardim Botânico que nunca pegou fogo com guimbas de cigarro, como o Museu Nacional e a Notre Dame e seus curto circuitos criminosos.
Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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