28 de março de 2024
Walter Navarro

O pequeno gigantesco Moonwalk de Neil Armstrong


A passagem e a velocidade do tempo estão irritantes!
Dez anos parecem dois. Ou pior, um.
Dia 20 faz 50 anos do Homem na Lua.
Ontem, lembrei-me de um crônica que escrevi, “há pouco tempo”, sobre o assunto.
Joguei meu nome + Neil Armstrong no Google e surgiu, do nada, do passado mais que recente e imperfeito, crônica que escrevi para o jornal O Tempo, de Belo Horizonte e publicada exatamente há 10 anos: 16/07/09.
Por que 16 e não 20? Porque era o dia de minha coluna semanal, quinta-feira.
Prometo não mexer em uma só linha. Boa viagem para nós.
“Faltam quatro dias pros 40 anos da Lua.
Já tive vontade de ir à Lua. Hoje, depois que minha Bastilha caiu, só quero uma pinga e um Prestobarba pra tirar os pelos do torresmo.
Pensando bem, já tinha ido, bem antes, com Monteiro Lobato e Jules Verne. Lobato, um Jules Verne de Taubaté, escreveu, entre outras delícias, “Mundo da Lua” (1923) e “Viagem ao Céu” (1932). Prefiro “Cidades Mortas” (1919), mais pé no chão, logo, mais engraçado.
Li muito Monteiro Lobato na infância de Sítio do Pica-Pau Amarelo…
No capítulo do francês Jules Verne, entre seus mais de 40 maravilhosos livros, lembro-me vaga e vacamente de “Viagem ao Centro da Terra”, “Vinte Mil Léguas Submarinas”, “A Volta ao Mundo em 80 dias”, “Cinco Semanas num Balão”, “Da Terra à Lua”.
“A Ilha Misteriosa” e “Miguel Strogoff, o Correio do Czar”, não li, mas vi na TV, no original, nas inolvidáveis manhãs invernais de Paris. Eu, sem vergonha, com 20 e tantos anos, ainda passava férias no Sítio do Pica-Pau Amarelo…
Por falar em balão e Lua, tem aquela música do Guilherme Arantes, “Lindo Balão Azul”: Eu vivo sempre no mundo da Lua, porque sou um cientista, o meu papo é futurista, é lunático… Eu vivo sempre no mundo da Lua, tenho alma de artista, sou um gênio sonhador e romântico… Eu vivo sempre no mundo da Lua porque sou aventureiro desde o meu primeiro passo pro infinito…”. Cientista maluco, futurista, lunático, artista, sonhador, gênio, romântico, aventureiro, infinito… Tudo sinônimo!
Nos “Contos da Lua Vaga” de Verne e Lobato, o homem só ia à Lua em foguetes de papel, o dos livros. No tempo do Guilherme Arantes o homem já tinha ido de foguete de verdade, mais precisamente na linda Apollo 11 azul.
Apollo 11, nome bonito que rima com “Um pequeno passo para o homem, um gigantesco salto para a Humanidade”, do astronauta bonito, Neil Armstrong, porque foi o primeiro a pisar na Lua de São Jorge, em 20 de julho de 1969.
69! Adoro este número. Este sim, me leva à Lua nua e tua!
Quarenta anos e eu até agora aqui… O máximo que já fiz foi ir à terra do Jules Verne e à Grécia, cujo povo, ainda hoje, só navega porque é preciso.
Armstrong foi escolhido para o programa aeroespacial em 1962, ano em que nasci sem saber o que era Terra, água e Lua. Eu só queria leite, o meu mundo e nada mais, pra usar outra música bonita do Guilherme Arantes.
Um ano antes, os “malvados” russos, saíram na frente, com o primeiro voo espacial tripulado por um ser humano, Iuri Gagarin.
Iuri Gagarin também é nome bonito. Tanto que, certamente, foi inspirado nele e numa de suas mil e uma amadas que o tarado e nefelibata poeta Vinicius de Moraes, com Baden Powell, fez a deliciosa chansong “O Astronauta”: Quando me pergunto se você existe mesmo, amor. Entro logo em órbita no espaço de mim mesmo, amor. Será que por acaso a flor sabe que é flor e a estrela Vênus sabe ao menos porque brilha mais bonita, amor. O astronauta ao menos viu que a Terra é toda azul, amor, isso é bom saber, porque é bom morar no azul, amor…
Gagarin berrando que a Terra é azul e eu ainda nem via a vida mais vivida que vinha lá da televisão.
Tava nem aí pra São Jorge, muito menos pro Dragão da Maldade.
Eu queria ir à Lua como se fosse a padaria da esquina.
E se não tivesse televisão e padaria cheia de sonhos e Coca-Cola na Lua? O que fazer? Contar crateras, com vista pra Terrazul?
A Lua e eu. Moonlight Serenade.
Armstrong não estava sozinho, tinha seus amigos. Edwin “Buzz” Aldrin e Michael Collins. Mas quem ficou famoso foi ele, o primeiro…
Ser o primeiro…
Aí é outra história…
384 mil quilômetros da Terra… Tudo isso? Só isso?
Quando aterrissaram, Armstrong ligou a cobrar para a Nasa – do Major Nelson – e disse outra coisa bonita: “A águia pousou”.
OK, ele foi o primeiro, mereceu porque também foi o mais corajoso. E se desse merda? E se tivesse algum monstro escondido dentro do primeiro buraco, à esquerda, saindo do elevador? E se ele e amigos ficassem Perdidos no Espaço, sem TV e Coca-Cola?
Por falar nisso, a saga foi transmitida pela TV e vista por um bilhão e 200 milhões de terráqueos, menos na Lua porque lá tinha nem antena. Êta planeta atrasado!
E ainda tem gente que não acredita.
Eu tinha apenas sete anos, não me lembro, vi nada, acho que nem TV a gente tinha, mas acredito.
Acredito até em volta ao mundo num balão em 20 mil léguas submarinas.
PS: Eu bobo, continuo bobo. Sempre sonhando com a Lua, nem percebi que, às vezes, dormindo ao meu lado, estava ela; o universo inteiro, mas um universo em desencanto.
PS2: Saindo de 2009, para 2019, percebo que, além de 10 anos mais bonitinho e ordinário, continuo mais perdido que calcinha em suruba. Mas, desta feita, estou Perdido em Marte.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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