29 de março de 2024
Colunistas Walter Navarro

Deus fuma charutos cubanos 2


Como eu ia dizendo, escrevendo e andando, no último capítulo, Humphrey Bogart mereceu pelo menos quatro Oscar, mas só venceu um, em 1952, com “Uma Aventura na África” (1951), com Katharine Hepburn e dirigido pelo mesmo John Huston.
“Uma Aventura na África” (“The African Queen”) é outro ainda mais clássico. É tão clássico que não está na lista do Belas Artes, como “Casablanca” e “O Tesouro de Sierra Madre”, ambos com Bogart, o último também dirigido por Huston.
Clássicos são clássicos por não envelhecerem e porque continuam gerando histórias.
O filme “Coração de Caçador” (1990), com ridícula tradução brasileira para “White Hunter Black Heart”, foi dirigido e estrelado por Clint Eastwood. A história é inspirada no livro de Peter Viertel sobre as aventuras de John Huston durante as filmagens de “Uma Aventura na África”. O personagem interpretado por Clint Eastwood foi baseado no mesmo Huston. O pequeno barco a vapor usado no filme é mesmo utilizado por Bogart no mesmo “Uma Aventura na África”.
“Grande parte do filme foi rodado em locações no antigo Congo Belga, hoje República Democrática do Congo e no lago Alberto, em Uganda. Katharine Hepburn escreveu um livro sobre os perigos, inconveniências, doenças da equipe, disenterias, calor, entre outros problemas”.
Ufa! Cheguei onde deveria e queria.
Neste livro de memórias, Katherine Hepburn conta como Bogart e Huston quase a levaram à loucura. Ela e equipe do filme. Os dois bebiam tanto whisky que foram os únicos poupados das picadas dos ferozes mosquitos. O álcool que trasnpiravam era verdadeiro repelente.
Será que bêbados morrem de dengue?
Agora, consigo juntar as duas histórias. Meu amigo, o carioca Borgerth, adorava contar a história do cara que escapou da morte graças ao cigarro, quando o viaduto Paulo de Frontin desabou no Rio de Janeiro.
“O Viaduto é conhecido como Paulo de Frontin porque embaixo dele passa uma avenida com esse nome”, explica o historiador Maurício Santos.
Na verdade o nome do viaduto é Eugène Freyssinet, em homenagem ao engenheiro e arquiteto francês, considerado “o pai do concreto protendido”, esse elevado foi cenário de uma grande tragédia, logo depois de sua inauguração.
Dia 20 de novembro de 1971, um trecho de 50 metros do viaduto em construção desabou sobre o cruzamento da Rua Haddock Lobo com a Avenida Paulo de Frontin, na Tijuca, matando 26 pessoas, ferindo 22 e deixando várias mutiladas.
Entre os sobreviventes estava este cara citado por Borgerth. Sábado, meio-dia, cansado do engarrafamento e do calor, apesar da chuva, ele saiu do carro para comprar cigarros num bar, pouco antes da tragédia. Logo, escapou da morte por ser fumante. Logo, o cigarro mata, mas também salva…
Há alguns anos, durante outra epidemia, talvez a do H1N1, li que, quando era permitido fumar em aviões o contágio era menor porque a fumaça “matava” os vírus…
Fumaça pode matar gente, mas também desinfeta e mata insetos, como o Jimo Gás Fumigante, por exemplo…
No estranho filme australiano, “The Coca-Cola Kid” (1985), aprendi que o fogo destrói e o gelo preserva. O Coronavírus não gosta de calor…
E esta semana, enquanto escrevia, seguia o noticiário francês no canal France 24h. Ouvi claramente a jornalista citar uma pesquisa onde fumantes eram minoria entre os contaminados e mortos, mas enfatizou: a fumaça é ruim, a nicotina pode ser um antídoto e, claro, os fumantes são “O” grupo de risco.
Mas, aqui entre nós. Como o ovo, o álcool, ainda que em gel, sempre antigo vilão e inimigo público número 1, anda salvando vidas… E seria muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito engraçado saber, agora, que a nicotina também salva e não só em viadutos que caem como as tardes no Brasil.
Sobre o amor nos tempos do Covid-19? Quase esqueci de outras belas dicas do acervo de filmes do Belas Artes. No francês “Pintar ou Fazer Amor”, um exemplo de que relacionamentos amorosos não são apenas doença, mas podem ser criativos, maduros e generosos. No espanhol “Uma Pistola em Cada Mão”, com ótimos atores e roteiro, descobrimos até o óbvio ululante, que o verdadeiro sexo frágil, bobo e infantil é o masculino.
PS: Pronto, agora vocês podem retomar uma atividade normal e eu tomar o drinque da hora: o remédio do Bolsonaro, o hidroxicloroquina com whisky e alguns cigarros. Sem mais delongas, feliz renascimento de Páscoa. Saúde para todos e beijos para o resto!

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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