19 de abril de 2024
Editorial

A pena vale o crime

Foto: Carta Capital

Do Congresso, onde encontramos a maioria dos envolvidos na Lava-Jato, está saindo do forno uma pizza em forma de projeto da dupla Renan-Requião. Em síntese, graças ao conceito abstrato de “abuso de autoridade”, corruptos podem vir a processar o policial que os investigar, o promotor que os denunciar e o juiz que os condenar. É a repetição da velha história de, no faroeste brasileiro, o bandido querendo prender o xerife.
A lei de abuso de autoridade é o avanço mais cruel da censura, ao sequestrar e proibir o pensamento lógico e livre. Descreve como crime a interpretação adversa a interesses inconfessáveis. Foi à luz das interpretações que filósofos libertaram a Humanidade dos anos de escuridão. Hoje, a república de Alagoas e outras querem ressuscitar este indigesto cerceamento. Basta! Minha república é, atualmente, a de Curitiba que, por sua excelência, já se alcançou os anseios mais nobres do nosso sofrido povo!
É inadmissível que o PMDB possa conviver em seu quadro com filiados como os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Roberto Requião (PMDB-PR). Ambos — autor e relator do projeto —, em causa própria, na estapafúrdia ideia de criminalizar juízes, procuradores e policiais. A ideia é tão estúpida quanto o desespero no galinheiro, com a chegada da raposa. Também, em se tratando de PMDB não se poderia esperar outra coisa.
Este Sr. Requião, com sua elegância verbal característica, explicitou a finalidade de seu texto contra o abuso de autoridade: “Não vou aprovar emenda nenhuma do PSDB! Que votem contra e, no dia seguinte, o Moro prende todos eles se o projeto não for aprovado”. Sr. Requião, menos… disfarce. Quem sabe, alguns poucos não acreditem em suas “puras intenções cívicas e republicanas”.
O senador é que abusa da nossa paciência com suas atitudes grosseiras e autoritárias. Desbocado e desrespeitoso, o senador representa o lado podre dos políticos que queremos extirpar da vida pública do Brasil. Já no Judiciário, a Segunda Turma do STF repete no petrolão o que havia sido feito no segundo julgamento do mensalão, reduzindo e modificando penas. Dessa vez, soltou Bumlai, o amigo do Lula, e Cláudio Genu, operador do PP. O próximo na fila é José Dirceu. Tudo isso causa nojo e repulsa aos brasileiros honestos.
Este senador, ao saber que seus pares do PSDB não votariam o tal projeto de abuso de autoridade, caso não fosse suprimido um texto vociferou: “Vão todos para PQP! Não votem, que amanhã ele estará prendendo vocês, e demonstrando não ter respeito por ninguém.” Disse isso ao se referir ao artigo do juiz Moro publicado no GLOBO, e acrescentou: “Ele (Moro) está fumando charuto com erva estragada, está fora de juízo.” Essa turma está fazendo o impossível para passar o rolo compressor na Lava-Jato. Senador, tenha mais um pouco de educação.
Diz que juiz quer ser tratado como Deus, mas o senador se comporta como tal. É como digo sempre: No Brasil atual, para os políticos e afins, a pena vale o crime…

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

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