28 de março de 2024
Sylvia Belinky

A mesmice e o extraordinário Ney Matogrosso


Tenho evitado ver muitos noticiários, ler opiniões e assistir a arranca-rabos porque tudo anda numa mesmice tediosa: a agressividade das pessoas a todo vapor e a ausência geral de desconfiômetro!
Todos se acham no direito de criticar e reclamar, sem que seja possível ignorar aquelas pessoas que passam o tempo todo clamando por Deus: Deus te ajude, Deus te guie, Deus te abençoe, com a graça de Deus e assim vai…
E tem os que são gratos por tudo e nos recomendam sê-lo de modo indistinto: obrigada por ter nascido, por ter água para tomar banho, roupa para vestir, por estar assistindo TV, por estar jantando fora – aqui sim, motivo à beça para ter gratidão!
As loucuras humanas estão tão disseminadas que já não nos espantam mais. Como, por exemplo o rapaz que, inspirado no outro que foi alvejado por um atirador de elite na Ponte Rio-Niterói (mais chique dizer um “sniper” – tem mais pedigree). E eu ia dizendo que o sujeito dentro de um ônibus em Copacabana, de posse de um “líquido pouco inflamável”, dado que deu xabú, como diria a propaganda dos Fogos Caramuru, foi levado pelo desespero e, num rasgo de originalidade – aí sim, digno de reportagens – enfiou uma faca no próprio peito!
Tenho evitado inclusive, ler os desaforos com que nos mima diariamente nosso presidente, decidindo inclusive quando devemos ir ao banheiro e para quê: porque ele manda e obedece quem votou nele…
E não é que eu quase deixo de ler uma entrevista do Ney Matogrosso na Uol? Finalmente, alguém inteligente, capaz, um artista de mão cheia, talentoso demais e absolutamente original até hoje! Ele faz ponderações inacreditavelmente pertinentes como aquela que, quando perguntado por um repórter inteligente – Rafael Godinho, do Uol no Rio de Janeiro –se estamos vivendo em um regime autoritário, ele responde que sim, mas que não é igual ao do tempo da ditadura, uma vez que esse presidente foi democraticamente eleito!
Fantástico também quando o repórter lhe pergunta se está preocupado com o autoritarismo: “Não, em nenhum momento. Acho que a gente não pode se submeter a isso. Quando você admite que tem medo já está enfraquecido diante do quadro. O meu lugar de fala é o mesmo. Continuo lutando pela liberdade, me expressando e fazendo o meu trabalho despreocupado, sem nenhuma autocensura… Eu provei que era possível ser diferente em um ambiente hostil. Se eu fui capaz disso, me orgulho. Se alguém está se mirando no meu exemplo e se colocando no mundo com liberdade, eu fico feliz de poder ter aberto isso. Mas não abri pensando em nada. Abri por uma necessidade minha” .
Pois é! Um artista completo, uma figura de proa desde os idos da ditadura que é, sem a menor sombra de dúvida, digno de admiração, leva a própria vida e, aos 78 anos de idade, ainda diz: “Estou trabalhando que nem um louco, viajando com meu show novo”, afirma…
Parabéns, Ney, por essa clareza, essa visão do que realmente importa: ter o que fazer e ser bom nisso. Bom, não: ótimo, definitivamente, fora de série!!
.”… Veja mais em https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2019/08/22/ney-matogrosso-fala-sobre-autoritarismo-no-governo-bolsonaro-retrocesso

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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