28 de março de 2024
Sergio Vaz

Para não esquecer jamais quem arruinou o país


Vamos levar décadas pagando pelo estrago feito por Lula e Dilma.
O Brasil é proverbialmente um país de memória curta. E sobram razões para isso. É um país jovem, em que boa parte da população é jovem, e é comum entre os mais novos aquela crença de que o mundo começou no dia em que cada um deles nasceu.
É também um país inculto, sem educação – literalmente, sem qualquer força de expressão. Uma década atrás se dizia que apenas 1% dos brasileiros liam jornal. Hoje talvez não passe de 10% o número de brasileiros que saiba o que é um jornal.
Livro de História, então…
É um país tão absolutamente desmemoriado que há quem diga que Lula acabou com a inflação – Lula, o cacique do partido que foi contra o Plano Real e contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.
É um país tão absolutamente desmemoriado que Lula está na frente nas pesquisas de opinião para a eleição presidencial de 2016. Não se completaram sequer 12 meses que Dilma Rousseff deixou a Presidência – Dilma Rousseff, a invenção de Lula que enfiou o país na mais profunda crise econômica de sua História –, e já há uma expressiva percentagem de brasileiros que querem recolocar na Presidência o partido que pilhou, roubou, saqueou a República e levou o país à recessão profunda, com mais de 12 milhões de desempregados.
Na quarta-feira, 22/2, O Globo publicou a seguinte manchete:
‘Luz barata’ de Dilma custará R$ 612 bi para o consumidor”;
E nesta quinta, 23, O Globo trouxe dois textos memoráveis, fundamentais, que explicam, tim-tim por tintim, como foi que Dilma Rousseff, com sua arrogância somente comparável ao tamanho de sua ignorância, conseguiu a proeza de praticamente quebrar o país.
São dois textos – um editorial e um artigo de Míriam Leitão – que a gente deveria guardar em local acessível, e ter sempre à mão para lembrar aos desmemoriados – ou os de má-fé – o que aconteceu quando o PT governou o Brasil.
Aqui vão os dois textos.
Choque persistente
Por Míriam Leitão, O Globo, 23/2/2017.
A conta da eletricidade criada pela política da ex-presidente Dilma conseguiu a façanha de ser um passivo que precisa ser pago várias vezes. A mesma conta persegue o consumidor ano após ano. O erro daquela redução artificial das tarifas decretada em 2012 provocou o tarifaço, despesas para o Tesouro, crise econômica e reaparece como passivo das empresas de transmissão de energia.
O custo agora será de R$ 62 bilhões, mas em 2015 o país já pagou a mesma conta da desastrada intervenção nos preços de energia feita pela ex-presidente através do enorme reajuste das tarifas que ficou na média em 51%, mas chegou, em algumas cidades, aos níveis de 70%.
A conta de energia elétrica dos consumidores residenciais, hoje, é 33% mais cara do que antes de a presidente Dilma intervir no setor em 2012. Isso, levando-se em consideração a queda de 10% no ano passado, fruto da recessão econômica, que fez despencar o consumo, permitindo a revisão das bandeiras.
A MP 579 ficará para a história como o exemplo perfeito do que não fazer. O primeiro erro foi misturar política com decisões econômicas e baixar preços para usar como moeda eleitoral. Dilma gravou o comunicado ao país sobre a queda dos preços tendo ao seu lado o marqueteiro João Santana. Não era ano eleitoral, mas o plano era preparar uma peça publicitária.
Outro erro foi tomar a decisão de reduzir as tarifas sem olhar a situação do setor, e as previsões hidrológicas. O país estava entrando num período de estiagem, os preços dispararam, as empresas estavam expostas ao mercado livre, e literalmente quebraram. Para reequilibrar financeiramente as distribuidoras, o governo liberou socorro do Tesouro e depois determinou que elas se endividassem no mercado bancário tendo como garantia o compromisso da agência reguladora de que o custo daquela dívida seria repassado às contas. E foi o que aconteceu em 2015, quando o preço disparou. A crise havia chegado em um ponto tal que, se as tarifas não fossem corrigidas, as empresas de distribuição iriam à bancarrota.
Depois foi a vez de as geradoras quererem também se ressarcir dos prejuízos da 579 e agora chegou a hora de pagar as perdas das empresas de transmissão. Esses R$ 62 bilhões que serão, de novo, tirados dos consumidores são, portanto, a terceira vez que esse fantasma reaparece no orçamento do brasileiro. Desse total, R$ 35 bilhões são o custo de ter adiado a solução. As indenizações às empresas deveriam ter começado em 2013, mas foram postergadas pela ex-presidente. A cobrança desse valor na conta de luz será dividida em oito anos. Em 2017 serão R$ 10,8 bilhões, mas outras parcelas desse valor serão cobradas nos anos seguintes. Isso quer dizer que um erro cometido em 2012 permanecerá pesando sobre o país até 2025.
A conta foi paga também indiretamente e de várias outras formas. A inflação subiu e espalhou custos para toda a economia. A disparada dos preços acabou fazendo parte da tempestade perfeita que jogou o PIB brasileiro no buraco do qual ainda não saiu. Os juros tiveram que ser elevados, aumentando o custo da dívida pública. O setor deixou de investir por longo tempo porque muitas empresas estavam com graves desequilíbrios financeiros.
Segundo o diretor-técnico da consultoria PSR, Bernardo Bezerra, há risco de aparecerem mais dois esqueletos. As geradoras dizem que querem receber por ativos não depreciados, e as distribuidoras apresentaram mais uma conta. Dizem que o consumo caiu, por causa da crise e dos erros da MP 579, e isso as deixou sobrecontratadas, o que no jargão elétrico quer dizer que fizeram contratos para entregar mais energia do que foi consumida. O país corre outro risco que é essa MP virar agora a desculpa para todo o tipo de desequilíbrio. Até aqui, a conta das empresas era real. O perigo é virar desculpa.
Tentando fazer um contrafactual: o que teria acontecido no país se em vez de João Santana ao seu lado, com a sua suposta esperteza — a mesma que o levou à prisão — ela tivesse um bom especialista em energia? Ele poderia ter dito que ela não fizesse o que fez. Se assim fosse, provavelmente, muito da atual crise teria sido evitado.
(Com Alvaro Gribel e Marcelo Loureiro)
Sociedade paga a conta do dirigismo de Lula e Dilma
Editorial, O Globo, 23/2/2017.
O rastro de ruínas deixadas pelo experimentalismo da política econômica heterodoxa do lulopetismo é extenso. Com a dramática particularidade de que, ao contrário dos tornados, os danos persistem e crescem durante muito tempo. A parte principal da conta remetida ao povo brasileiro pela política dirigista do “novo marco macroeconômico” — cujas estacas foram fincadas no segundo governo Lula, com Dilma Rousseff na Casa Civil — levará muito tempo para ser resgatada. A desastrosa obra foi concluída pela própria Dilma no Planalto, e lhe custou o mandato no início do segundo governo.
Foi o pior ciclo de crise econômica da História da República, instaurado na estagnação de 2014, estendendo-se ao biênio seguinte de recessões acima dos 3% ao ano, responsáveis pela demissão de mais de 12 milhões de pessoas no mercado formal de trabalho, com todos os dramas pessoais decorrentes de uma tragédia social dessa envergadura.
Soube-se na terça-feira, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que aquela filosofia de gestão econômica aplicada por Dilma neste setor produziu uma fatura de R$ 62,2 bilhões ainda a ser paga pelos consumidores.
É no que deu a ideia dirigista, aplicada para, a partir de 2012, cortar em 20% as contas de luz. Dois anos depois, a presidente se reelegeria. Mas aumentos de custos em geradoras e distribuidoras, escamoteados por meio de subsídios do Tesouro para tudo resistir até as urnas, vieram à tona, e não houve alternativa a não ser um tarifaço — alertado sucessivamente na imprensa profissional.
Vendida ao eleitorado como exímia gestora, com lastro na experiência acumulada na área elétrica, Dilma Rousseff interveio no setor, por meio de medida provisória, para, numa acrobacia regulatória, exigir de concessionários a redução nas tarifas em troca da renovação de contratos.
Estatais sob controle de governos de oposição (São Paulo e Minas) não aceitaram a prestidigitação, e, para agravar tudo, veio a seca. Com isso, as termelétricas, de custo operacional mais elevado, tiveram de funcionar durante muito tempo. Mais custos ficaram reprimidos, mas nem assim houve recuo.
Nem o tarifaço foi suficiente. Ativos das empresas não foram remunerados como deveriam. Assim, sobraram ainda estes bilhões a serem distribuídos pelas contas de luz até 2025. É o exemplar irretocável de um “esqueleto” fiscal, como aqueles deixados nos armários da contabilidade pública pela ditadura militar, mantidos no início da redemocratização e só descobertos no Plano Cruzado. Pois eles voltaram a ser criados na fase populista do lulopetismo — excluindo quase todo o primeiro mandato de Lula.
O PT, infelizmente, voltou a ser PT em política econômica, e o resultado é que a sociedade mais uma vez terá de arcar com despesas ocultas deixadas nesses armários por salvacionistas.

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