28 de março de 2024
Colunistas Sergio Vaz

Doze Jurados / De Twaalf

De: Sanne Nuyens e Bert Van Dael, criadores, Bélgica, 2019
Doze Jurados, série belga da região de Flandres lançada em 2019, tem várias qualidades, de deixar cinéfilo boquiaberto, com vontade de aplaudir de pé como na ópera. O elenco é um deles. É uma coisa acachapante. São muitos personagens importantes, pelo menos duas dezenas – e todos os atores que os interpretam estão nada menos que ótimos.
Como é possível, meu Deus do céu e também da Terra, que haja tanto ator profissional com aquele talento na região da Bélgica de fala neerlandês?
São muitas as qualidades, mas a maior delas, a mais extraordinária, é a idéia básica, a sacada que os criadores tiveram: é uma história de tribunal em que jurados são tão importantes quanto o réu e o crime que está sendo discutido.
Já foram feitos trocentos dramas de tribunal, nestes 120 e tantos anos de cinema. Essa produção belga de 2019 é a primeira que vejo que dá tanta importância aos jurados quanto ao julgamento em si, ao crime que está sendo discutido.
Isso fica evidente desde o título original, De Twaalf. A língua, o tal do neerlandês, é para nós distante, dificílima, mas dá para perceber, ainda mais quando se vê que em inglês a série se chama The Twelve, que De Twaalf significa Os Doze.
Boa parte dos 10 episódios de cerca de 45 minutos cada de De Twaalf ser passa na sala em que os jurados se reúnem – e isso, é claro, faz lembrar o maravilhoso clássico 12 Homens e uma Sentença/12 Angry Men, que o então jovem Sidney Lumet dirigiu em 1957. Acho bastante provável que os criadores deste De Twaalf, Sanne Nuyens e Bert Van Dael, tenham visto bastante o filme de Lumet.
Mas eles foram muito além.
Esta Doze Jurados vai mostrando o julgamento que está rolando, vai mostrando as pessoas envolvidas, próximas à ré – e, paralelamente, abre para o espectador relatos sobre como está a vida de diversos daqueles 12 seres humanos escolhidos para decidir o destino da acusada.
Da mesma forma com que para mim foi impossível não lembrar de 12 Homens e uma Sentença enquanto via os 10 episódios da série, foi impossível afastar da cabeça os versos de Bob Dylan na canção “Hurricane”, em que ele acusa o julgamento do boxeador Rubin Carter de ter sido viciado, errado, por racismo: “How can the life of such a man be in the palms of some fool’s hands?” Como pode a vida de um homem desses ficar na palma da mão de alguns tolos?
Mais, muito mais do que contar uma bela, intrigante história do julgamento de uma mulher acusada de assassinar não apenas a sua maior amiga como também a sua própria filhinha de uns 4 anos de idade, Doze Jurados coloca em discussão – exatamente como a canção de Dylan – a própria validade do júri popular, essa instituição secular que tantos juristas defendem como sendo uma belíssima invenção, já que os acusados são avaliados por seus pares, seus semelhantes, seus iguais.
“I would not be convicted by a juri of my peers, still crazy after all these years”. Eu não seria condenado por um júri dos meus pares, dizia Paul Simon em um dos melhores de seus poemas musicados.
Lá pelo meio da série, creio no episódio 9, um dos 12 jurados, acossado por graves problemas em sua vida, exprime a dúvida: – “Me pergunto se somos as pessoas certas para julgar aquela mulher.”
A base, o fulcro, o sentido desta série maravilhosamente bem realizada é esta inquietação, este questionamento: pode a vida de um ser humano ficar na palma da mão de um grupo de pessoas que enfrenta os mais diferentes problemas em suas vidas?
Cada jurado que a série nos mostra está afundado, profundamente afundado em graves problemas. Ele, ela, cada um deles, teria a capacidade de raciocínio isento, alerta, para decidir se aquela ré é culpada ou não?
Isso é a base da série. Mas tem mais. Ela vai mostrando, ao longo de seus dez episódios, que a polícia belga – aquele país rico, civilizadíssimo, um dos 20 de melhor Índice de Desenvolvimento Humano do planeta, acima de França, Itália e Espanha, só para dar alguns exemplos – é capaz de terríveis falhas. O inspetor que chefia a investigação do primeiro crime aceita um suborno, e a inspetora que o substitui e comanda a investigação do segundo é capaz de forjar uma prova para incriminar a mulher que ela tem certeza de que é a culpada.

Um roteiro bem costurado, que usa bem os flashbacks

O roteiro original, de trama criada diretamente para a série pela dupla Sanne Nuyens e Bert Van Dael, é um absoluto brilho, coisa de profissionais experientes, veteranos. A ação se passa em 2018 – quando está rolando na cidade de Ghent o que os jornais e a TV chamam de “julgamento do milênio”; 2018 é o momento presente, o hoje. Mas há diversos, diversos flashbacks, e flashbacks para épocas diferentes.
Volta-se para o finalzinho de 1999 e início de 2000, quando ocorre o primeiro crime de que a ré, Frie Palmers, está sendo acusada – a morte de Brechtje Vindevogel, moça que era sua maior amiga. Volta-se também, e várias vezes, para 2016, quando ocorre o segundo crime atribuído a Frie – a morte da garotinha Roos, então com uns 4 anos, filha de Frie e seu então ex-marido Stefaan De Munck.
As muitas voltas ao passado não confundem o espectador. Os roteiristas fizeram tudo de forma a não complicar a vida do espectador. Há letreiros informando as datas, para que a gente não se perca. E os flashbacks surgem de maneira inteligente, esperta – em geral, quando algum dos personagens no presente, em 2018, se lembra de algo do passado.
Os flashbacks seguem uma antiga lei da gramática do cinema não escrita mas obedecida em 99,9% dos filmes: o que se mostra nos flashbacks é a verdade. (Alfred Hitchcock foi acusado de desrespeitar essa lei em Pavor nos Bastidores/Stage Fright, de 1950, e foi duramente criticado por isso.)
É nos flashbacks que os criadores da série nos revelam diversos dos pontos mais surpreendentes da trama.
Sanne Nuyens e Bert Van Dael dão um show de domínio dessa coisa de mostrar fatos de diferentes épocas ao longo da narrativa.
O crime de 2000 não foi solucionado pela polícia
Frie Palmers, a ré, é interpretada por Maaike Cafmeyer no presente, nos dias de hoje, quando está aí com uns 40 e poucos anos (na foto acima). Nos flashbacks passados em 1999-2000, por Louise De Bisscop, na foto abaixo – e aí os responsáveis pelo casting foram extremamente felizes. É fantástica a semelhança entre as duas atrizes.

Brechtje, a moça que era a maior amiga de Frie, quando as duas tinham aí uns 20 anos, é o papel de Lynn Van Royen.
Naquele tempo lá atrás, 1999-2000, Brechtje namorava Stefaan (feito Aimé Claeys quando jovem e por Johan Heldenbergh, na foto abaixo, quando maduro).
Brechtje desapareceu no início de janeiro de 2000, após uma festa de réveillon de arromba. Seu corpo foi encontrado dias mais tarde no rio que banha a cidade.
O pai de Brechtje, Marc Vindevogel (Koen De Sutter), era um famoso ativista da luta pelos direitos dos animais. Algum tempo antes de desaparecer, Brechtje havia sido vista em um vídeo que a mostrava sequestrada por fazendeiros contrários ao grupo de ativistas do pai; no vídeo, ela implorava para o pai obedecer aos pedidos dos sequestradores, para que ela pudesse ser libertada.
Um líder dos criadores de gado da região, Guy Vanneste (Wim Willaert), apareceu como suspeito do sequestro – e quando, pouco depois, Brechtje apareceu morta, Marc, o pai da moça, não teve dúvida alguma de que tinha sido ele o assassino.
Marc chegou a oferecer suborno para o inspetor de polícia encarregado da investigação, Vantomme (Bart Slegers), para que ele não desistisse e prosseguisse à procura de provas que comprovariam a culpa do fazendeiro.
Mas Vantomme e sua então assistente, Eliane Pascua (Sara Vertongen), não conseguiram encontrar provas suficientes para acusar o fazendeiro. Não encontraram provas suficientes para acusar ninguém. O caso jamais havia sido solucionado.

Uma policial carreirista, capaz de forjar provas

Uns três anos depois da morte de Brechtje, Frie e Stefaan começaram a namorar. A melhor amiga e o namorado da morta.
Casaram-se. Vários anos após o casamento, já chegando perto dos 40 anos, Frie finalmente conseguiu engravidar.
Stefaan sempre foi mulherengo, namorador; Frie sabia de traições dele. Mas, quando estava grávida da menininha Roos, foi abandonada por Stefaan, apaixonado por uma moça mais jovem, Margot (Greet Verstraete, na foto acima), que trabalhava na escola de que Frie era a diretora.
Stefaan e Margot se casaram – e começou uma intensa disputa nos tribunais pela guarda da garotinha. Foi uma coisa feia, horrorosa, cheia de baixarias que vão sendo reveladas ao longo dos episódios. Houve coisas horrorosas. Um exemplo: Stefaan procurou a polícia para dizer que, durante uma das muitas discussões com Frie sobre a guarda de Roos, a ex-mulher contou que tinha sido ela que havia assassinado Brechtje.
O casal Stefaan-Margot venceu a batalha judicial e ganhou a guarda exclusiva de Roos. Frie só teria o direito de ver a filha de 4 anos uma vez a cada duas semanas.
A essa época, 2016, Eliane Pascua havia assumido o cargo de inspetora-chefe da polícia na cidade.
E foi nessa época que Roos levou um corte na garganta, perdeu muito sangue e, levada para o hospital, acabou morrendo – não pelo corte em si, mas por uma infecção hospitalar.
A única suspeita da polícia foi Frie.
A série mostra essa policial Eliane Pascua como uma mulher desagradável, antipática, carreirista – e anti-ética. Fascinada com a possibilidade de apresentar uma solução para um crime que havia sido muito falado na imprensa mais de uma década e meia antes, e ao mesmo tempo a morte de uma criança, a inspetora jogou todas suas fichas nas acusações contra Frie Palmers.
Na primeira sequência da série, ficamos conhecendo Frie e seu advogado, Ari Spaak (Josse De Pauw), um profissional veteraníssimo, uma figura impressionante, com uma longa, longa barba de profeta do apocalipse.
O advogado Spaak parece ser a única pessoa que acredita na inocência de Frie, além de Marc Vindevogel, o pai de Brechtje.
Marc havia sempre simpatizado com Frie; sabia da grande amizade entre ela e sua filha. E nunca fora com a cara de Stefaan – era absolutamente contra a intenção da filha de se casar com ele.
Embora não haja prova conclusiva, clara, efetiva, contra Frie, em nenhum dos dois casos, e sim apenas algumas pistas, circunstâncias, os primeiros comentários que os escolhidos para formar o júri fazem entre si são de certeza de que ela é a assassina tanto da melhor amiga quanto da única filha. Mesmo antes que o julgamento comece.
Como pode a vida de um ser humano estar nas mãos de pessoas assim?

Um grupo de jurados cheios de sérios problemas

O texto já ficou longo até aqui, porque quis apresentar os fatos básicos da história de Frie Palmers, e eles não são muito simples – mas tenho certeza de que nada do que foi dito acima chega a ser spoiler. O relato foi mesmo dos fatos básicos, iniciais.
Apesar do tamanho do texto até este ponto, é forçoso falar, ainda que tentando não descer a detalhes, dos demais personagens centrais da série – os jurados.
O júri deve ser o espelho da sociedade. Essa, creio, é uma das idéias básicas do conceito do júri popular. O conjunto de jurados deve corresponder ao conjunto de uma sociedade, de um povo.
Se o júri que os criadores Sanne Nuyens e Bert Van Dael compuseram for o espelho do conjunto dos belgas da região de Flandres, dos belgas de fala neerlandesa… Caramba, que sociedade cheia de problemas…
Bem, mas qual não é?
Doze Jurados – De Twaalf, The Twelfe – nos mostra não 12, mas 14 jurados; 12 são os titulares, mas há também dois reservas.
O espectador vai conhecer sete deles – os outros sete são meros figurantes.
Apresento aqui os sete jurados. A rigor, a rigor, pode ser spoiler
E aqui vai uma advertência. Se o eventual leitor ainda não viu a série, seria aconselhável que parasse de ler a esta altura. O que vem adiante é a descrição básica dos sete jurados que a série focaliza. Não se revela nada da trama central – mas pode talvez estragar o prazer do espectador de ir descobrindo as características de cada um deses personagens.
A primeira que vemos, logo no início do primeiro dos dez episódios, é Delphine (Maaike Neuville, na foto acima), uma mulher jovem, de no máximo uns 40 anos, bonita, mas que parece, já de cara, um tanto insegura. Veremos que é muito pior do que isso. Mãe de três filhos pequenos, Delphine é estupidamente submissa a um marido – Mike, interpretado por Titus De Voogdt – machista, autoritário, possessivo, cego de ciúmes, violento, abusador.
Delphine tenta resistir quando é convocada para ser um dos jurados reservas, porque Mike não queria que ela participasse do julgamento. Mas, na Bélgica como no Brasil (e acredito que em boa parte dos países que adotam o júri popular), participar não é opcional – é uma missão, uma obrigação, assim como ser mesário nas eleições. Sem opção, Delphine pede a seu patrão que pegue as crianças na escola e fique com elas até ela se liberar das funções. Mas isso deixa Mike furiosíssimo, porque tem ciúme doentio do patrão da mulher – e chega a trancá-la uma noite inteira no banheiro de casa!
Não no Jardim Ângela ou no Complexo do Alemão, no fundo da miséria deste Terceiro Mundo que às vezes parece o Quinto, ou o quinto dos infernos – mas em uma casa ampla, sólida, confortável, de bairro classe média de Ghent, uma das maiores cidades do país que sedia a capital da União Européia!
Lá pelas tantas, numa das muitas ocasiões em que ficam trancados na sala reservada a eles durante o dia, no tribunal, Delphine deixa escapar para um colega do júri, Noël Marinus (Piet De Praitere), que seu marido diz que a única coisa que ela sabe fazer com muito talento é sexo oral.
Mary fez uma definição cruel mas acurada dessa pobre Delphine: é a mulher com a menor dose de autoconfiança que já apareceu num filme.

Um jurado que passa informações para um blogueiro

Ao contar que a única coisa que o marido admira nela é seu talento ao fazer sexo oral, Delphine não sabia, é claro, que seu colega de júri Noël Marinus frequenta sessões dos viciados em sexo anônimos.
A série mostra esse Noël, de início, como uma pessoa bastante desprezível. Tinha sido um fotógrafo de alguma fama, e ganhado um bom dinheiro na vida. Nos últimos tempos, no entanto, havia perdido quase tudo, e estava cheio de dívidas, caçado por credores. Decide, então, ganhar algum dinheiro de um jornalista bloqueiro conhecido seu que está cobrindo o julgamento (o papel de Uwamungu Cornelis). E vai passando para o jornalista informações a respeito dos colegas de júri.
Uma das informações mais bombásticas que Noël passa para o blogueiro é a verdadeira identidade de uma das juradas, a que havia sido a primeira escolhida, e à qual cabia o título de jurada número 1. A moça – interpretada por Charlotte De Bruyne, na foto acima – se identificava como Holly Ceusters. Havia trocado o sobrenome, o nome da família do pai, que era dono de uma grande empresa de construção, depois de uma tragédia absurda: ao voltar para casa depois de uma noite na balada, havia encontrado os pais mortos, assassinados por ladrões que invadiram a casa milionária.
A revelação feita pelo jornalista de que a jurada número 1 do julgamento do milênio já havia aparecido em um caso de imensa repercussão na imprensa choca a todos. Se houvesse a comprovação de que um dos jurados havia falado com alguém da imprensa, todo o julgamento poderia ser anulado.
A bela e jovem Holly – o espectador vai vendo – carrega, é claro, o peso da tragédia. É uma pessoa inquieta, desassossegada; gostaria imensamente de vender a gigantesca casa dos pais que a faz lembrar da tragédia a cada dia. Para compensar o trauma, ou não, Holly faz sexo compulsivamente, com o primeiro que aparecer.
Mostra-se atraída por um dos jurados, Joeri Cornille (Tom Vermeir), um homem uns bons dez anos mais velho que ela, no mínimo, mas de boa estampa.
Joeri me pareceu um ser humano bom, em meio a tantos tipos cheios de problemas, de defeitos.
Herdou do pai – que agora está em uma casa de repouso, alheio à realidade, sempre à espera da chegada da mulher que já morreu – uma empresa de construção civil. Como é o mais velho dos dois irmãos, tem a incumbência de chefiar a empresa – mas não se entende nada com o irmão mais novo, Bjorn (Dominique Van Malder). Bjorn bebe muito e – bastante pior que isso – tem noções arrevesadas sobre ética. Faz questão de contratar imigrantes ilegais, a quem pode pagar bem menos – algo com que Joeri não concorda, de forma alguma.
Uma tragédia acontece envolvendo um trabalhador – um brasileiro imigrante ilegal. Joeri, homem de bons princípios, fica apavorado com a situação. Sente-se responsável pelo que aconteceu. Imerso em sua culpa, às vezes parece não ouvir nada do que está sendo dito durante o julgamento.
Carl Destoop (Zouzou Ben Chikha) também está à volta com sérios problemas. Um sujeito quadradinho, careta, organizadíssimo, próximo do TOC, Carl acaba de descobrir, durante os dias do julgamento, que sua filha adolescente (creio que é Juliette, interpretada por Sofia Ferri) não apenas falta às aulas de ginástica, como também participa das apresentações de uma banda de rock bem hard, bem dark, em que cai sobre seu rostinho um litro de tinta vermelho-sangue, à lá Carrie, a Estranha.

Ironia: o senhor solitário se mostra o mais generoso

Delphine, Noël, Holly, Joeri, Carl.
Cinco jurados. Cinco seres humanos imersos em problemas.
Há ainda – apesar de o texto já estar bem grande – Vera e Arnold.
Dos sete jurados que ficamos conhecendo, Arnold Bries (Peter Gorissen) é o mais pobre, o mais classe média quase baixa. Ele me pareceu, a princípio, também o mais simpático.
Arnold, senhorizinho aí de uns 60 e muitos, 70 anos, perdeu a mulher algum pouco tempo antes do presente, dos dias de hoje, 2018. Não tiveram filhos; ele vive sozinho num apartamento simples para os padrões daquele país rico; os vizinhos de cima trepam muito e eloquentemente – e Arnold não consegue dormir direito, irritado até a morte com os ruídos do casal.
Trabalha como cuidador de animais em um zoo. Tem especial predileção pelos macacos, em especial por um macaco que ele considera o líder de todos – mas aquele exatamente acabará sendo tirado dali para ser tratado no zoo de Berlim.
Arnold é um dos personagens mais solitários que vi nos últimos muitos anos.
Vera De Block (Anne-Mieke Ruyten), uma senhora mais ou menos da idade de Arnold, simpatiza com ele. Pergunta onde ele mora, percebe que os dois vivem mais ou menos na mesma região da cidade; oferece-se para dar carona a ele – nos dias anteriores, Arnold havia ido de sua casa até o tribunal em sua pequena Vespa.
Parece que vai haver alguma alegria na vida de Arnold, afinal. Uma companhia, a possibilidade de uma amizade.
Vera convida Arnold para jantar na casa dela – e, quando chegam lá, ela apresenta a Arnold sua esposa.
A partir dai, Arnold não voltará a aceitar carona de Vera, nem conversar com ela.
Solitário, triste, infeliz, careta, homofóbico – mas, no décimo e último episódio, serão dele as frases mais generosas, mais cheias de bons sentimentos, entre todas as que os jurados pronunciam antes de depositar seus votos de sim ou não na urna, diante da juíza presidente e seus dois assistentes.
No último episódio, Arnold – o careta que não consegue admitir que duas mulheres se amem e vivam juntas – é a pessoa que mais se parece com o jurado número 8 de 12 Homens e uma Sentença, o papel de Henry Fonda, o homem calmo, sem pressa, que quer que todos os pontos sejam examinados, antes de aquele grupo de pares mandar o réu para o corredor da morte.
Achei esse detalhe uma prova a mais de como os criadores da série foram talentosos, surpreendentes.
E eles deixaram para apresentar nos cinco minutos finais desta série de 10 episódios de cerca de 45 minutos cada a solução de tudo, a revelação definitiva de quem, afinal de contas, cometeu os crimes.
E o que vemos ali naqueles minutos finais é bastante surpreendente.
De Twaalf uma belíssima série.
Anotação em julho de 2020
Doze Jurados/De Twaalf
De Sanne Nuyens e Bert Van Dael, criadores, Bélgica, 2019
Direção Wouter Bouvijn
Com Maaike Cafmeyer (Frie Palmers, a ré), Josse De Pauw (Ari Spaak, o advogado de Frie), Johan Heldenbergh (Stefaan De Munck, o ex-marido de Frie), Greet Verstraete (Margot Tindemans, a nova mulher de Stefaan), Lynn Van Royen (Brechtje Vindevogel), Koen De Sutter (Marc Vindevogel, o pai de Brechtje), Sofie Decleir (Inge Van Severen, a advogada de Marc), Jolente De Keersmaeker (Lutgard, a mãe de Margot), Louise De Bisscop (Frie jovem), Aimé Claeys (Stefaan jovem),
(no júri e seu entorno) Maaike Neuville (Delphine Spijkers, a jurada oprimida pelo marido). Charlotte De Bruyne (Holly Ceusters, a jurada cujos pais foram assassinados), Tom Vermeir (Joeri Cornille, o jurado dono de empresa de construção civil), Peter Gorissen (Arnold Briers, o jurado solitário que trabalha no zoo), Zouzou Ben Chikha (Carl Destoop, o jurado todo certinho), Piet De Praitere (Noël Marinus, o jurado viciado em sexo), Anne-Mieke Ruyten (Vera De Block, a jurada lésbica), Titus De Voogdt (Mike, o marido de Delphine), Dominique Van Malder (Bjorn, o irmão de Joeri Cornille)
(e também) Isabelle Van Hecke (Hedwig, a procuradora), Sara Vertongen (inspetora Eliane Pascua), Bart Slegers (inspetor Donald Vantomme), Uwamungu Cornelis (o repórter blogueiro), Wim Willaert (Guy Vanneste, o fazendeiro), Kristien De Proost (a psiquiatra Jutta Verswijfel),
Argumento e roteiro Sanne Nuyens e Bert Van Dael
Fotografia Dries Delputte
Músics David Martijn e Jeroen Swinnen
Montagem Bert Jacobs e Pieter Smet
Produção Eyeworks Film & TV Drama, Vlaamse Radio en Televisie (VRT). Distribuição Netflix
Cor, cerca de 450 min (7h30)

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