28 de março de 2024
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Paraíba, sim, senhor

Circunstâncias da vida impediram-me de conhecer a minha família Menezes, que é de Natal, Rio Grande do Norte. Meu avô morreu cedo, meu pai também e eu nunca conheci um só parente Menezes. É uma lacuna na minha vida. Quem sabe ainda tenho a sorte de esbarrar num primo? De repente, as redes sociais ajudam. Para facilitar, aviso que o meu avô se chamava Gustavo Adolpho Silva de Menezes. Peço ao potiguar que tiver um tio-avô ou bisavô com esse nome, para entrar em contato comigo. Ficarei muito feliz.

Como todo brasileiro que se preza, meu sangue agrega muitos sangues. Minha família materna, Gaio, é do Porto, Portugal. E quando falo em Portugal, falo em árabes, mouros, judeus, celtas, romanos, germânicos e até em indo-europeus, povo que primitivamente viveu no meu “jardim à beira-mar plantado”.
Tenho uma trisavó índia Bororó por parte dos Dutra, de Mato Grosso do Sul. Meu avô materno, Castro, de Nova Friburgo, RJ, descendia de mineiros e fluminenses e o meu avô paterno, como já disse, era nordestino. Se duvidar, rola até um invasor holandês na linhagem dele.
Eis-me aqui, portuguesa de coração – culturalmente, a linha materna sempre se impõe -, mas sem o selo DOC ou Denominação de Origem Controlada. Docemente constrangida, declaro que há muito vinho europeu com mais pedigree do que eu.
Escrevo sobre isso porque, no Brasil, o papo muderninho é choramingar o Nordeste, como se fosse defeito nascer ou descender de alguém daquela parte do país. Faltou diplomacia ao presidente Bolsonaro quando se referiu aos governadores da região como “governadores paraíba”. Concordo que um presidente da república deve tomar cuidado com o que fala, um pouco de finesse não faz mal a ninguém, principalmente à uma autoridade.
Mas, numa boa, sou carioca, carioca mermo, cresci ouvindo a cariocada generalizando a origem dos migrantes, que acabaram donos da cidade ex-maravilhosa. Hoje, o que menos tem no Rio de Janeiro é carioca. Mas, no meu tempo, a cidade era nossa e o nordestino era paraíba ou pau de arara, português era galego ou o seu Manoel e ninguém se ofendia ou ficava de mimimi.
Minha santa e decidida avó lusitana ensinou-me que vitimização se cura com um tanque de roupa para lavar. Criou uma geração de gente forte, a qual orgulhosamente pertenço. Imagina se vou perder o meu tempo, que está ficando escasso, com tolices.
A história do politicamente correto – palavra que pode, palavra que não pode – já deixou de ser chata, está se tornando ridícula.
Sou paraíba, sim, com muito orgulho. Pelo menos ¼ do meu DNA é nordestino.
Qual é o problema?

O Boletim

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