25 de abril de 2024
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Aquarela do Brasil

Ah, meu Brasil brasileiro, até quando você abusará de nossa paciência?
Hoje, o Diário de Pernambuco noticiou que o ministro da educação, Mendonça Filho, quer eliminar as aulas de Filosofia, Sociologia e História por serem “esquerdizantes” e também por serem “inúteis, um palavrório, os alunos não entendem nada”. Para completar, os professores de tais matérias seriam, na concepção do ministro, “seres excêntricos”.

mendoncaO ministro Mendonça Filho: um espanto

A matéria também relata que a otoridade afirmou ter aprendido “mais História lendo os gibis da Turma da Monica do que nas escolas”. Sinceramente, não consigo acreditar nesta última patacoada. A menos que o senhor Mendonça Filho esteja com os parafusos soltos. Nesta vida, como sabemos, nada é impossível. Nem mesmo a existência de um ministro da educação portador de disfunção no Tico e no Teco.
Deus nos livre, nóis num merece tanta inguinorância. Enfim, apesar do susto, esta proposta já me fez dar boas gargalhadas.
Não é que os meus esquerdinhas de estimação logo se alvoroçaram? Todos chocados pelo fato de assuntos tão importantes serem substituídos por Moral e Cívica. Espoucaram nas redes sociais os lamentos habituais, ais e uis de espanto, como se nossos meninos assistissem a excelentes aulas de filosofia e sociologia e, a partir de agora, estivessem fadados a não mais exercitar a compreensão do mundo, da vida, da palavra, da essência do ser. Pobres crianças dependentes do ensino público. Mal sabem assinar o nome quase às vésperas do Enem. E o senhor ministro aí, falando tolices, tratando-os como se fossem, todos, candidatos a intelectuais de vanguarda.
Sou pragmática. Lamentar, só lamento – se é que acontecerá – o fim das aulas de História, importantíssimas para os brasileirinhos se situarem no nosso espaço e na nossa cultura. Bem, se é que as aulas de História estão sendo ministradas comme il faut.
No fundo, a brilhante proposta do ministro, que perdeu bela chance de ficar calado, é substituir nada por coisa nenhuma. Nossas crianças nunca tiveram aulas de Filosofia e Sociologia, jamais terão as de moral e cívica. Antes de delirar, o senhor Mendonça Filho poderia tentar ajeitar a rede pública de ensino e, ao menos, oferecer à meninada o básico com alguma qualidade.
Impossível não recordar que na ECO/UFRJ frequentei, durante um semestre, as aulas de Moral e Cívica, obrigatória na grade de ensino. Só lembro que o óleo de mamona – até hoje não sei o que é mamona – seria a redenção econômica do Brasil. Com ele, o milagre, produzia-se combustível de automóvel, amaciante de roupas, vaselina, brilhantina e condicionador para os cabelos, lubrificante para foguetes espaciais, graxa de sapato, óleo de fritar, bronzeador solar, KY e o escambau a quatro.
Já passaram 40 anos. Nós continuamos no mesmo lugar, discutindo as mesmas bobagens e tentando inventar a pólvora.
E ainda há quem proteste.
Haja paciência.

O Boletim

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