19 de março de 2024
Uncategorized

Era um vez uma família de bem. E de muitos bens


Era um vez uma família de bem. E de muitos bens. Famílias de bem, e de bens, também gostam muito de se dizer abençoadas pelo Senhor e do reino Dele acreditam fazer parte, como rebanho privilegiado. A família do pastor Márcio Matos, o todo poderoso responsável pela bem aventurada Igreja Pentecostal Anabatista, localizada no arrivista reduto da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, é uma parábola e tanto do quanto nem o braço divino impede abalos sísmicos nas moralidades humanas. O rico pastor Márcio, e sua mulher Simone, têm dois filhos, de nomes bíblicos: Saulo Pôncio e Sarah Pôncio.
Ultimamente, a família tem frequentado as seções de fofocas e celebridades de certos veículos pouco laureados. Numa prova de que o demônio joga dados e trapaceia, até nos mais felizes contos familiares pentecostais, a história dos Matos deixa no chinelo qualquer trama de novelinha dessas com dezenas de roteiristas, seja da Globo ou da Record.
Satanás
Mas dada a riqueza de detalhes sórdidos da narrativa, quem sentirá falta de rostos conhecidos? Tem de tudo na história: mansão-residência multifamiliar, juventude, beleza, fortuna, luxo, sexo, traição, estupro, justiça, cadeia, perdão e três testes de DNA com homens diferentes para atestar a paternidade de uma criança. Tem falsificação genética, reivindicação de guarda de neta que não é neta, ostentação e novo um casamento bombado nos trend topics, com digital influencer nova morando na mansão da família, carro de luxo de presente embalado em papel e laço em porta de restaurante. Uma prova cabal de que em casa do Senhor, não existe satanás.
Um dos muitos pontos de partida da trama: a filha do casal de pastores Márcio e Simone, Sarah Pôncio, é casada com Jonathan Couto, que lhe foi apresentado pela amiga em comum, a atriz e obreira da Santabatista, Leticia Almeida, novinha, 23 anos. A atriz também foi a apresentada a Saulo Pôncio, irmão de Sarah, o outro filho ungido do rico casal de pastores. Letícia teve um namorico com Saulo, engravidou, tudo ficou em família. Ela passou a morar na mansão e todos estavam tão felizes quase como numa Santa Ceia em torno de imagens diárias de piscinas de bordas infinitas. Passaram a ser três casais na mansão divina: os pastores, a filha Sarah, grávida, o marido Jonathan. O filho Saulo Pôncio e a atriz grávida, Leticia.
Pelos desígnios de Deus, a matriarca da família, Dona Simone, mãe do casal de herdeiros, achou de cismar um belo dia que a menina parida do ventre da atriz não havia sido concebida por seu varão Saulo Pôncio. Bateu pé e exigiu um DNA. Deu positivo. A matriarca não se conformou. Exigiu que o filho pedisse outro. Deu ruim: a atriz havia falsificado o primeiro o DNA. Apareceu na história um segundo candidato a pai, lá dos costados do Projac. Novo DNA. Negativo. Mas a atriz e a filha continuavam acolhidas na mansão sagrada dos pastores, valendo o estatuto de neta para a criança, pois gente de Deus entende de fraquezas humanas e a tudo perdoa. A essa altura, a filha do pastor já havia parido o segundo filho de Johnattan, que, não mais que de repente, foi identificado geneticamente como sendo o pai biológico da filha da cunhada, a atriz, amiga de sua mulher, moradora da casa e mulher do seu cunhado [nessa parte admite-se desenhar uma árvore genealógica sagrada da família, da igreja, da mansão e das relações entre os membros dessa comunidade religiosa]. E o veredito: Leticia exigiu mudança na certidão de nascimento da pequena. Quis que o cunhado-pai assumisse. Assumiu.
Nesse final de semana, Saulo Pôncio casou com outra, num rega-bofe sagrado e profano nos carérrimos salões do Copacabana Palace. O mundo gospel carioca foi aos céus vestido de Dolce Gabana. A nova moradora da movimentada mansão dos Matos, onde Jonathan continua habitando, claro, é a influenciadora digital Gabi Brant. A moça está grávida. E todos estão de novos felizes para sempre. O pastor Matos ainda trava na justiça a guarda da neta não-neta, a filha do genro acusado de estuprar a cunhada numa noite em que Sarah Pôncio, a herdeira, dormia serena num quarto da mansão e que Letícia, a atriz, havia ficado pistola porque Saulo Pôncio divertia-se nos bastidores de um show de sua banda bissexta em Brasília. A vida desse povo de bem e de muita fé é movimentadíssima, mas abençoada sempre. Glória a Deus!

O Boletim

9 Comentários

  • LAIS BACK 19 de dezembro de 2019

    O MELHOR TEXTO DE 2019 KKKKKKKKKKKKKKKKKKK. AMEI AMEI DEMAIS. QUE POVO RIDICULO DESSA FAMILIA , PURO STATUS E DINHEIRADA DE ONDE VEM ?

    • AFMP 25 de junho de 2020

      Indústria do Tabaco. Detalhe.

      • ANDREA FERREIRA DA SILVA 19 de setembro de 2020

        Esse dinheiro vêm do rebanho e dos indiotas do 🇧🇷

    • Sergio Nunes Martins 23 de setembro de 2020

      O diheiro vem dos otários que sustentam esses pseudo pastores. Pelo menos, a coisa é mais democráticas entre eles. O quê você diria da “miséria do Vaticano…?”.

  • Erica 17 de janeiro de 2020

    Que Deus tenha misericórdia.
    Quem em sã consciência vai seguir em uma igreja na qual o pastor não põe em ordem a casa dele, como esse homem pode falar e dar exemplo aos seus fiéis? Jesus está voltando.

  • Mara 18 de janeiro de 2020

    KKKKKKKKKKKKKK MORRI, PARABÉNS A QUEM ESCREVEU ESSE TEXTO

  • Luciana 9 de agosto de 2020

    Precisamos desse texto atualizado agora pra 2020/2021 hahahaha e nome da autora/ autor. Já quero seguir.

    • admin 10 de agosto de 2020

      Infelizmente a Malu não colabora mais no Boletim… mas farei chegar a ela este seu comentário, ok? @malufontes

  • Liria Teixeira 25 de setembro de 2020

    Parabéns ao ou a jornalista detentora da autoria do texto. Deveria ser publicado no Facebook pra que o maior número de pessoas possível, pudesse ler e constatar, e rever seus conceitos “religiosos”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *