16 de abril de 2024
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Soneto de Natal

Machado de Assis
Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto… A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”
Este ano – especialmente, este ano – tenho me lembrado muito do soneto que aprendi em meu livro de português, no antigo curso ginasial. Pois é, meninada, antigamente, a gente aprendia de verdade. Eu tinha doze, talvez treze anos, e já havia sido apresentada a Machado de Assis.
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Não sei o motivo, mas este verso, “mudaria o Natal ou mudei eu?”, impressionou-me. Como mudaria o Natal, pensava a minha cabecinha já experiente em perdas e danos, mas ainda cheia de sonhos? Imagina, o aniversário de Jesus é e sempre será uma enorme e maravilhosa festa.
Santa inocência. Hoje sei o que o grande Machado quis dizer. ”Mudaria o Natal ou mudei eu?” Mudei eu, queridos. Acho que para melhor. O Natal é que, ano a
ano, desandou a ficar sem graça. Ah, meu Deus, olha aí eu vivendo o mesmo dilema do poema. Afinal, quem mudou, eu ou o Natal?
Tudo foi bom – árvores, ceia, presentes – enquanto existiram as crianças. Primeiro, os meus irmãos e eu. Mais tarde, os filhos e os netos. Não tenho do que me queixar. Em matéria de sonhos, vivi dezenas e dezenas de natais de encantamento e ternura.
Jamais saberei quem mudou, se eu ou o Natal. Mas a verdade é que estou amando os meus natais-terceira-idade. Fiquei pragmática. Troquei o climão e a emoção de festa pelo mais delicioso leitãozinho e as mais fantásticas rabanadas do planeta Terra.
Pronto, resolvido, fui eu que me mudei para Portugal.
Se vocês não entenderam nada do que escrevi, fiquem tranquilos. Eu também não entendi esta crônica. Acho que não passa de piração natalina de quem tem os descendentes espalhados pelos quatro cantos do mundo. Literalmente.
Feliz Natal, meus queridos. Tenham, todos, uma noite super feliz.

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