28 de março de 2024
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Sessão Nostalgia

Leio nas redes sociais a aflição de quem ama e vive de e para a literatura. A venda de livros caindo, livrarias fechando, editoras demitindo e publicando cada vez menos, pagamentos atrasados, tristeza, frustração e, apesar de tudo, esperança de dias melhores. Faz parte da nossa cabeça, a dos artistas, a capacidade de sonhar e de acreditar. Quem sabe dias melhores realmente virão?

Como eu entendo quem escreve por vocação, impulso, amor, irresistível atração pelas palavras. Para mim, elas são como legos virtuais. A gente vai montando, montando, sem saber direito aonde quer chegar e, de repente – nós, autores, acreditamos – temos uma joia na mão. Joia feita por nós, com o nosso encanto, joia que oferecemos generosamente: “olha, gente, esse texto somos nós, peguem, decifrem a nossa alma, vocês também se emocionarão”, dizemos em silêncio aos futuros leitores.
Talvez seja a minha idade, já não acredito em nada. Talvez seja excessivamente pragmática. Talvez tenha somado tantas decepções literárias que, num determinado momento, descobri que a paixão que colocava no ato de escrever era diretamente proporcional à decepção de ver os meus livros mofar nas prateleiras. Então, eu sofria, como sofria. Dei muita cabeçada.
Sou autora de oito livros. Com exceção de um, que não é lá grande coisa, gosto demais dos outros sete. Sem modéstia, acho que escrevo bem. Mas não aconteci como escritora. Tentei tudo. Até fazer social com o meu temperamento de urso hibernando, eu fiz. Nada aconteceu. Sem vocação para o masoquismo, peguei meu boné, sai de fininho e fui ser feliz de outra maneira. Não é que estou conseguindo?
Dos meus livros guardo ótimas lembranças. Os momentos maravilhosos, mágicos, da criação. A emoção de cada personagem passeando dentro de mim – discutindo comigo, é possível? A alegria sincera dos amigos, escritores iguais a mim, em cada lançamento. As ótimas críticas, os elogios, tanta coisa incrivelmente boa a literatura me deu. Reconhecimento e dinheiro, nunca. Mas me deu felicidade. Deu-me, principalmente, um orgulho do qual não abro mão: eu sou uma escritora.
Longe do Brasil, da literatura como meio de vida – nunca longe dos livros -, longe do que me fez muito feliz e me provocou muitas lágrimas, leio os comentários da turma que ainda não desistiu e torço por todos e por cada um.
Por favor, não desistam de sonhar, não desistam de investir suas forças, suas magias, suas ânsias em novos livros. Não sou a melhor pessoa do mundo para dar esse conselho, eu mesma não aguentei o tranco e joguei tudo por alto. Mas é que, no fundo, ainda cultivo a esperança de um livro meu cair nas mãos certas e o milagre ocorrer.
A literatura é linda, é forte, é delicada, é vida. As redes sociais não conseguirão destruí-la.
Nós não vamos permitir.

O Boletim

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