19 de março de 2024
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A batata é nossa

O tal de Drake, que a minha terceira idade permite não saber de quem se trata, é multimilionário, tem avião particular, vende disco como se fosse banana, brilha como uma das grandes estrelas do Rock in Rio, etc. e tal. Mas, vamos combinar, também não passa de um completo idiota. Chegou ao Brasil cheio de marra. Proibiu a televisão de transmitir o seu show e, para provar que o novorriquismo, quando ataca, é doença incurável, trouxe um cozinheiro e todos os alimentos que irá consumir nessa vastidão desconhecida da América do Sul. Sinceramente, depois de tanta desfeita, eu lhe daria um pontapé na bunda e o despacharia de volta a seu Canadá natal. Não creio que fizesse falta.

Descobri no Google que o Drake é uma espécie do multiprocessador tão em voga nas cozinhas modernas, faz tudo ao mesmo tempo. Descasca batata, bate massa de bolo, assa em minutos um pudim de leite. Claro, os resultados têm um gosto meio suspeito. Mas os fãs gostam, ele dá lucro à indústria do show business, o jeito é acreditar que o rapaz, realmente, destaca-se em todas as suas atividades: ator, cantor, empresário, rapper e produtor musical. Além de chato pra caramba.
Minha má vontade com o Mr. Drake deveria ser minimizada pelo fato de o supracitado cidadão ter tido uma infância complicada. Filho de pai norte-americano afrodescendente (detesto quando me sinto obrigada a ser politicamente correta) e mãe judia, Drake teve uma infância pobre. Deve ter comido muita, mas muita porcaria para sobreviver. Por isso, desembarcou no Brasil trazendo até batata inglesa na bagagem, devidamente descascada e frita por seu cozinheiro particular na cozinha do hotel que o hospeda em Copacabana.
Acho que vou contar-lhe que a batata, que salvou a Europa de morrer de fome no século XVI, é originária das bandas de cá. Mais exatamente do Peru, local onde os colonizadores espanhóis a encontraram. Se o tubérculo fosse uma droga, um jiló na vida, até hoje seria conhecida como batata peruana. Por ser um alimento quase perfeito, logo se transformou na nobre batata inglesa. Pois é, nós, da periferia, nem sempre sabemos quantas injustiças já sofremos.
Olha, Mr. Drake, sua “bestice” impediu-o de provar especialidades supimpas. Churrasco, feijoada, bobó de camarão, vatapá, carne de sol com manteiga de garrafa, acarajé – ai, que saudade, acarajé é bom demais.
Bem feito para você, jogou uma bela oportunidade fora.
Mas, como sabemos, o destino dos burros é sempre morrer pastando.

O Boletim

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