19 de abril de 2024
Colunistas Junia Turra

A História por trás da (minha) História

Foto: BBC.com
Pedro Aleixo, era um grande jurista, e de uma correção impecável. Um homem brilhante e íntegro que esteve à frente do Congresso representando o povo brasileiro e poderia ter dado ao Brasil um outro caminho se tivesse ele assumido a Presidência do Brasil.

Um democrata, vice-presidente no governo Costa e Silva. Como determina a lei, com a morte do presidente, deveria ter assumido.

Mas houve o aparelhamento por determinado grupo de militares e a coisa tomou outro rumo.

O AI-5 não era necessário. Militares e civis sabiam disso.

Pedro Aleixo negou-se a assinar aquele Ato Institucional. Disse que jamais calaria a voz do povo, jamais agiria contra a democracia.

Fez o certo. Acima da vaidade pelo poder.

E foi aí que se instalou, sim, o golpe.

O Brasil poderia ter sido naquele momento reconduzido à Democracia plena.

Mas ali a coisa começou a ser outra.

Até na Educação, quando tiraram o Latim do ensino Médio e depois até das faculdades de Direito junto com o Direito Romano e passaram a distribuir concessões de rádio e TV para coronéis como ACM, José Sarney, Maluf e tantos outros.

E Eliezer Batista, Ministro das Minas e Energia no governo João Goulart – que tanto Costa e Silva quanto Pedro Aleixo consideravam um sujeito nada confiável – foi convidado de honra por João Batista Figueiredo para ser presidente da Vale do Rio Doce.

Eliezer, a quem Castelo Branco indicou para emprego em empresa privada de mineração, já que não tinha respaldo para colocar no governo, mapeou as riquezas do país e entregou ao filho Eike Batista, que preferiu negociar o mapa da mina e viver como nababo. Pisou em falso.

Verdade seja dita.

Também foram os militares que alavancaram a Rede Globo, a emissora amiga que se beneficiou do poder e aprendeu a usar e abusar das vantagens e a criar esquemas de uso do dinheiro público em barganha com o poder.

Qual a dúvida?

Ou seria possível comparar o brilhantismo e o preparo de um jurista do porte do Pedro Aleixo com um presidente tosco e despreparado como o general Figueiredo, que, lá na frente, no caminho plantado por certos militares, garantiu a ascensão de sanguessugas de péssima índole e nenhuma capacidade?

Vamos dar nomes aos sanguessugas:  FHC – que nunca foi exilado, porque o parente próximo era da cúpula militar –  e o outro, Lula da Silva, o falastrão pelego que seguia os passos do irmão mais velho no sindicalismo.

E com eles veio a leva de oportunistas de toda ordem e estabeleceu-se a troca de um ideal de oportunidades para todos pelo ideal do poder e das vantagens ilícitas da esquerda radical e criminosa.

Integridade!

Pedro Aleixo era tão íntegro que quando estava à frente do Congresso Nacional e o filho dele José Carlos, que estudava em seminário jesuíta no exterior foi ordenado padre, Pedro Aleixo viajou com a esposa e pediu licença formal para a viagem.

Quando retornou ao Brasil viu que recebeu pagamento integral e verificou que tinha valores a mais. Foi ao departamento responsável em Brasília, perguntar do que se tratava.

Além do pagamento integral, sem desconto dos dias em que se afastou, havia verbas extras de viagem e hospedagem.

Pediu que fosse revisto porque ia devolver o dinheiro corrigido.

Ouviu do chefe do departamento que ele deixasse como estava, pois a justificativa era a de que viajou para “representar o país” e que a figura dele no exterior representava o Brasil.

Pedro Aleixo então disse: – “não, eu estava lá para abraçar e parabenizar meu filho, pai que abraça com orgulho e amor o seu filho. O custo da viagem é pessoal e não do povo brasileiro.

Peço desculpas por ter me afastado do país nesses dias e o dinheiro retornará aos cofres públicos”.

Lá na raiz.

Pedro Aleixo é natural de Passagem de Mariana. O sobrado onde nasceu virou museu.

O pai dele, José Caetano, comprou um casarão, que tinha na parte de baixo o  “armazém” ou “venda” Aleixo. Assim surgiu o nome da família.  Mas suspeita-se que o sobrenome era originalmente italiano “José Caetano” , de “Caetani” e virou “José Caetano Aleixo”.

Quando virou museu, na data oficial, houve missa na Catedral de Mariana e a inauguração no local.

(Saí de São Paulo e fui à solenidade me acompanhou na empreitada, buscando-me no aeroporto e me contando histórias da História, o grande Djalma Gomes, jornalista investigativo, correspondente internacional, com família quatrocentona da mesma Mariana e que me ensinou os primeiros passos da “investigação além da investigação”).

E segue a História.

A família Aleixo se mudou de Passagem de Mariana para a Praça Antônio Dias, 80, em Ouro Preto. Ao lado da Matriz, próximo à praça principal da antiga Vila Rica.

A construção do século XVIII é um sobrado de dois pavimentos, localizada em uma das primeiras ruelas de Ouro Preto.

Lá funcionou a Fundação Guignard e a casa foi doada à Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP). Atualmente no imóvel, funciona a Escola de Arte Rodrigo Melo Franco de Andrade e a sede do Memorial do Presidente Pedro Aleixo.

O grande Pedro.

Pedro Aleixo, foi proibido pelos militares de exercer qualquer atividade política. Passou a fumar absurdamente, morreu de desgosto e tristeza. Não enriqueceu na Política. A casa em que residia em Belo Horizonte, projeto de Oscar Niemeyer, ele deixou em usufruto para a mulher, mas doou para  fundação que atendesse menores carentes.

Nenhum dinheiro no exterior, nada em cofres de banco, nenhuma peça retirada do patrimônio público.

Patrimônio conquistado como grande advogado e jurista.

Pedro Aleixo X Juscelino Kubitschek

Naquele tempo, Juscelino Kubitschek era oposição política a Pedro Aleixo. Os partidos PSD e UDN.

Polos opostos na política, mas ambos queriam sim, o melhor para o povo e o país. Tinha, cada qual os seus princípios e ideais,
Juscelino, como Pedro Aleixo, não deixou patrimônio milionário a herdeiros.

Eram grandes amigos e “compadres”: padrinhos dos filhos um do outro. Bons tempos….

Os Natais.

Juscelino e a família tinham endereço certo de encontro no Natal: a  casa da rua Paracatu, 747, em Belo Horizonte.

Lá dona Ursula Aleixo, mãe do Pedro, morava com a filha e a família dela. Ursula, apelidada de Iaiá, a mais nova e única irmã dele. Ao todo eram 7 filhos filhos. Antonio e João do primeiro casamento do pai que, viúvo, casou-se com Ursula Maria, e vieram  Lindolfo, Josefino, Pedro, Alberto e Úrsula.

E onde eu entro nessa história?

Paulo, o filho da irmã mais nova de Pedro Aleixo era muito querido pelo tio e desde pequeno admirava a maneira carinhosa e suave dele, mas ao mesmo tempo eloquente e determinado.

Assim como Milton Campos, Pedro e Paulo estudaram Direito na “Vetusta”, a Casa de Afonso Pena.

Na formatura dele, Paulo, lá estava o tio na primeira fila a aplaudi-lo. A ele deu a caneta pessoal, o anel de formatura, uma coleção de Direito Penal e o convite: “o seu lugar no meu escritório está garantido”.

O sobrinho agradeceu. Passou em todos os concursos públicos, fez cinco doutorados.

O tempo passou. E lá estava o Paulo, jornalista, radialista, professor, advogado, juiz de Direito, desembargador, sobrinho do jornalista, professor, advogado, presidente da câmara dos deputados em Brasília, ministro da educação e vice-presidente da República, o jurista Pedro Aleixo, me entregando aquela caneta, o anel, a coleção de livros e me oferecendo ajuda para eu seguir o caminho do Direito.

Mas eu, preferi seguir o meu próprio caminho onde a Justiça pudesse ser buscada de forma mais ampla, além da arrogância de muitos que ao contrário de Pedro e Paulo não entendem que são apenas servidores do povo. Quis ir além da letra fria da lei que dá lugar a interpretações de viés político de certos grupos e Cortes de Justiça.

Quanto ao irmão Alberto, não se sabia ao certo  onde estava. Não se falava dele. Era uma tristeza para a mãe idosa.
A família de Alberto Aleixo recebeu o direito a indenização por ter sido torturado e morto.

Mas, valor muito pequeno. Bem distinto do que o advogado do PT Eduardo Greenhalgh conseguiu para muitos da turma. Alberto era comunista e achava que iria melhorar o mundo. Quando a mãe morreu procurou os irmãos para oferecer a parte dele na herança. Ninguém quis comprar. Maurício, filho do Pedro disse que só podia pagar 4 mil, valor abaixo do real.

Alberto disse que precisava só de 3 mil. Não queria o restante. Era o suficiente para a gráfica e para circular o jornal de esquerda no Rio de Janeiro. Alberto foi preso, torturado. Já de idade e debilitado pediram que permitissem ser  transferido . Foi negado pelo juiz . Alberto , morreu pouco depois no hospital.
A família dele nunca recebeu valores como os pagos a Ziraldo e Lula, que nunca levaram um tapa na cara dos militares. E nunca sofreram nos porões da ditadura.

A Justiça tarda mas não falha

A Justiça foi feita : Pedro Aleixo reconhecido como Presidente do Brasil. O retrato na galeria dos presidentes em Brasília.
A carta oficial , meu pai também  recebeu e está guardada.

A caneta e o anel dados a mim foram retirados de cena como aquele Cristo barroco que Lula e Marisa surrupiaram do Alvorada.
No meu caso , a autoria tbém é inquestionável. Foi “Caim”.

Mas anel e caneta não garantem a ninguém SER como Pedro ou Paulo. E nem assinar Aleixo.

Por falar em assinar…

Com Assis Chateaubriand, Pedro Aleixo fundou os Diários e Emissoras Associados.

Eu estudava Direito, Belas Artes e Jornalismo. Ao mesmo tempo, Full time!  Depois passei a fazer o jornal da Faculdade de Direito – era o meu laboratório (virei Diretora de Imprensa de todas as chapas políticas, meu negócio era a notícia. Eu fazia tudo, de charge a fotografia).

E passei em concurso para a Judiciário. E corri atrás:” oi , o jornal da Amagis precisa de uma repaginada”. Fiz um exemplar e aprovaram. Passei a fazer o jornal da Amagis (Associação dos Magistrados)… veio o convite da família que quando eu me formasse poderia escolher o lugar em certo jornal porque eu tinha talento e já fazia um bom trabalho.

Mas, eu era estudante… E pensei: vão sempre dizer por maior que seja o meu mérito que foi pelo nome de família.

Pronto!

Passei a usar o sobrenome italiano. E tenho pelo menos três primas com o mesmo nome. Resolvido.

E por fim…

O Grande Pedro

Ele lutava por democracia, por liberdade de expressão (freedom of speach).

Não lutava por questão de gênero, por pedofilia, por sexualização de crianças, nem contra a Igreja, contra a cultura brasileira, a tradição judaico-cristã.

Ele não queria queimar museus, não queria benefícios e auxílios para poder representar o povo. Certa vez colocou o filho Sérgio como assessor dele em Brasília , para economizar para o povo. Sergio não recebia nada.

Pedro Aleixo era um homem brilhante e íntegro.

Além de tudo tinha um grande texto. E honrava a palavra. A apavora dele era de honra .

Ao meu tio Pedro,  o abraço que faltou!

E a honra de ser sua sobrinha neta e nem precisar assinar o mesmo sobrenome para provar isso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Ao belíssimo trabalho de pesquisa da BBC News, que apresentou Jornalismo como nos grandes tempos, aqueles tempos que eu só ouvi dizer nas histórias que ouvi.

À Bebel Faria de Oliveira que me enviou o link e a todos os meus amigos e às famílias deles cuja História do país se mistura com a História de empenho, dedicação, mérito , esforço , princípios de família e sociedade. Tudo isso que não vamos deixar se perder.
Desde os Alpes até o glorioso Reino da Mantiqueira de onde vemos o horizonte infinito.

Junia Turra

Jornalista internacional, diretora de TV, atualmente atuando no exterior.

Jornalista internacional, diretora de TV, atualmente atuando no exterior.

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