16 de abril de 2024
Joseph Agamol

Trezentos gramas


Sim, trezentos. O correspondente a um pouco mais que esse hambúrguer aí da foto.
Menos que o conteúdo de uma embalagem de pão de forma. Para ser mais preciso, nove fatias.
Mais ou menos uns quatro pacotinhos de miojo. É, miojo.
Dois potes de manteiga contém 400g.
Num blister de amêndoas, para os que preferem uma alimentação mais natural, cabem 300g.
Para os que não se importam de meter o pé na jaca, um pote grande de Nutella tem 650g!!!
O café expresso que a gente consome em uma semana? 300g.
Dois pacotes de cream crackers – minha avó chamava de creme-cráqui – tem, por baixo, 400g.
Vocês talvez estejam se perguntando o porque dessa minha aparente obsessão com os tais 300g.
É que acabei de saber que o governo da Coreia do Norte estabeleceu que, a partir de agora, cada cidadão norte-coreano terá direito a cerca de 300g de alimento diários.
Trezentos gramas.
Por dia.
Muitas pessoas talvez digam que 300g, afinal, não é tããão ruim assim: que basta fazer mais um ou dois furos no cinto e ir levando.
Que a vida é assim mesmo. Para alguns, claro.
E o que são um ou dois furos a mais no cinto em benefício da CAUSA?, dirão.
O que me indigna, me repugna, me afronta e ENFURECE é acreditar, é SABER, que a maioria das pessoas que defende a CAUSA, a ideologia malfazeja por trás de ditaduras como a norte-coreana jamais teve que fazer um ou dois furos a mais no cinto.
Que droga, sequer sabem o que significa a expressão “apertar o cinto”, a não ser como exercício de retórica.
Pelo contrário: para essa gente, o único problema relativo a cintos é encontrar longos o bastante capazes de acomodar suas vistosas panças.
Para essa gente, acostumados a flanar por Paris, Miami e New York City, acostumados ao bom e ao melhor, acostumados a nunca saberem o que significa “crise”, mesmo que seu país esteja mergulhado nela, a Coreia do Norte é uma Disneylândia virtual.
Mas eles preferem a real, é claro.
Porque 300g no estômago dos outros é refresco.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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