24 de abril de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Quem transformou a cultura brasileira em deserto?


Ontem escrevi um texto em homenagem aos 79 anos de Ney Matogrosso. E várias pessoas comentaram, citando suas músicas preferidas, e eu próprio ouvi várias durante a feitura da postagem. Ney tocava pacas nas rádios, durante os anos 70 e 80. Não era restrito às rádios específicas. Tocava em todas.
Ney era conhecido por seu bom gosto: cantava de tudo, mas quase sempre as canções continham arranjos elaborados, com uma boa tessitura harmônica e letras de excelência. E tocavam. Sem precisar googlar, cito aqui algumas, de orelhada: Tigresa. Não existe pecado do lado de baixo do Equador. Bandido. Seu tipo. Balada do Louco. Poema.
Ney é só um exemplo clássico, classicíssimo, da música que era consumida há uns trinta anos. Como outros tantos. Vocês devem lembrar de uma penca deles. Angela Ro Ro, Vinicius Cantuária, Belchior, Zé Ramalho e Luiz Melodia. O Clube da Esquina todo. Clara Nune,. João Nogueira, Ednardo Fagnere  João Gilberto.
No entanto, a julgar pelo padrão que ouvimos hoje, de “rabas” e “brabas”, parece que esses caras tocavam no rádio na época em que nossos ancestrais ergueram os traseiros peludos do capinzal da savana e olharam em volta para ver se escapavam de virar brunch de leões gulosos.
O processo de erosão do cardápio musical oferecido ao povo brasileiro pode ser expandido para a cultura como um todo.
Se, na mesma época citada, as pessoas liam Machado de Assis, Guimarães Rosa e Nelson Rodrigues, para citar só três nomes, hoje leem – quando leem – “obras” de personalidades midiáticas, crônicas de astros globais ou análises políticas de humoristas. O cenário é de pobreza extrema. Um deserto de ideias, como disse alguém.
Alguns desertos surgem naturalmente. Outros, por ação do homem.
Alguém tem dúvidas sobre os responsáveis pela desertificação da nossa cultura?

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *