Em plena quarentena do Covid-19, o Ministro da Justiça, Sergio Moro, justificou numa coletiva à imprensa a saída do governo:
“- Faça a coisa certa, pelos motivos certos, e do jeito certo”.
Era uma vez um juiz…
No sempre atual romance “A BESTA DE PA$ADENA” narro a trajetória e as conquistas do ex-juiz Moro da 13ª Vara Federal de Curitiba. Como investigou o “maior esquema de corrupção de todos os tempos no Brasil”, que desviou bilionárias verbas, hoje essenciais à melhoria da saúde pública. Como ganhou notoriedade nacional e internacional, julgando, em primeira instância, os crimes da Operação Lava-Jato, de 2014 até fins de 2018.
Sem a máscara do mito, o romance policial traz à tona a imparcialidade e a lisura do seu comportamento ético e jurídico.
Comprova sua alta competência em condenar um grande número de políticos, empreiteiros e empresas. Conta, como conseguiu condenar o ex-presidente Lula a nove anos e seis meses de prisão, em 2017. Decisão esta, mantida em segunda instância, que só foi revogada por vexaminoso julgamento do Supremo.
Notabilizou-se pela venerada “biografia” de vitórias em prol de um mais eficaz processo penal.
Era uma vez um Ministro…
Em 1° de janeiro de 2019, Moro foi o primeiro Ministro a tomar posse no governo do eleito Presidente Bolsonaro. Por livre escolha, exonerou-se do cargo na magistratura.
Assumiu o Ministério da Justiça e Segurança Pública, onde desafios e conspirações o perseguiriam num ambiente de trabalho dissonante do Judiciário.
Mal chegou a sua imagem de paladino da ética sofreu um grande desgaste com a série de denúncias da #VazaJato do site The Intercept Brasil e também da mídia do país e do mundo.
Os desentendimentos com o Congresso e o Supremo resultaram em sucessivas derrotas. O positivo Pacote Anticrime e Anticorrupção virou uma colcha de retalhos nas comissões legislativas. Teve rejeitado o excludente de ilicitude (ampliação da legítima defesa) e teve de tolerar um tal de “juiz de garantias”, uma fantasmagoria no direito processual penal.
Sofreu baixas importantes: não emplacou o plea bargain (delação premiada no varejo) e o COAF foi para o Banco Central. A contragosto, abrigou a FUNAI na pasta da Justiça.
Negligenciou nas investigações da facada contra o candidato presidencial eleito.
Amargou a soltura do “criminoso” Lula, junto com centenas de bandidos perigosos, agraciados pelo escandaloso fim da prisão em 2ª instância, que sepultou grande parte do seu brilhante trabalho de ex-juiz.
Não teve competência, nem perseverança, como Ministro para vencer os seus adversários, congressistas e togados do STF, que conseguiram o impossível: não só paralisar os avanços da Operação Lava Jato, como encolher as conquistas históricas, quase “zerando tudo”. Deixou a Dilma Rousseff impune, rindo do seu apelido secreto: “Russo”.
O pior do saldo negativo foi banir o sonho do “combate à corrupção e à impunidade” para o Brasil reencontrar o seu futuro digno e não se envergonhar do Primado da Justiça.
Antes do adeus, 32 mil criminosos foram soltos, sob o “subterfúgio” do Covid-19.
O Brasil perdeu um ex-juiz ético, que nunca devia ter aceito ser um Ministro.
Sr. ex-Ministro, o Sr. fez a coisa errada, pelos motivos errados e do jeito errado…
Sua “biografia” desabou…
O Brasil agora se concentra numa prioridade: sobreviver à pandemia do coronavírus e ao oportunismo dos políticos.
Advogado da Petrobras, jornalista, Master of Compatível Law pela Georgetown University, Washington.