De manhã, vi algumas referências na internet sobre um menino de 14 anos, que sumiu em São Gonçalo, depois de uma batida policial.
Estava exatamente me preparando para comentar o assunto na tevê, quando soube que o menino apareceu: foi morto pelos policiais.
Aconteceu um clássico choque entre policiais e traficantes. João Pedro Mattos, esse é o nome do menino, estava distraído com adolescentes jogando games em casa.
Os traficantes fugiram lançando granadas. A casa de João Pedro, que nada tinha com o assunto, foi invadida pela polícia que fulminou o menino. Aliás um menino que, fora da pandemia, limitava-se a ir de casa para a escola e frequentava um culto evangélico.
Nada mais estúpido que isso. Lembrei-me da entrevista que fiz com o coronel Alessandro Vissacro que estuda hoje nos Estados Unidos e é um especialista nas guerras modernas e assimétricas.
Teóricos como ele sabem que nesses confrontos, interessa à parte menos numerosa que inocentes sejam mortos, pois isso a fortalece.
Em quase todos os conflitos assimétricos, vitimas inocentes são colocadas na linha de frente para serem mortas.
Todos os estudiosos desses conflitos sabem disso. As forças policiais deveriam saber também e preparar seus protocolos em função dessa realidade.
No caso de São Gonçalo não foi nem preciso esforço dos traficantes. A própria polícia chegou atirando a esmo, pois era evidente que cinco adolescentes em torno de um vídeo game não eram os traficantes que procuravam.
Infelizmente temos que conviver com essa incompetência assassina.
Ela leva vidas inocentes e faz com que, em última análise, além da injustiça da ação, o dinheiro público seja usado para matar pessoas de bem e fortalecer a tática dos traficantes.
O Wilson Witzel, governador do Rio, parece não dar a mínima para as distorções na ação policial. Está preocupado com o escândalo de corrupção que envolve seu governo: compra de respiradores e equipamentos para combater a pandemia.
Aliás a corrupção nessa área se estende a vários estados. Já mencionei o caso do Amazonas onde compraram respiradores numa loja e vinho. Há o o caso do Pará que comprou respiradores inadequados. Em Santa Catarina, assim como aqui no Rio, caiu o Secretário de Saúde. Mesmo motivo: superfaturamento em equipamentos médicos destinados a combater o coronavírus.
Se somarmos toda essa farra local com o comportamento errático de Bolsonaro, compreendemos que o coronavírus que é um forte inimigo em todos os países, aqui torna-se um inimigo invencível.
Não adianta dizer que o Brasil é muito grande. O Canadá é maior. Não adianta dizer que no Brasil mora muita gente. Na Índia mora muito mais.
Voltando à pandemia, mencionei ontem a disposição europeia de tornar a vacina contra a Covid um bem global. Disse que era preciso combinar com os Estados Unidos.
Não deu outra.
A experiência mostra que os EUA defendem com muita ênfase o direito intelectual sobre os medicamentos. O país acha que uma disposição para tornar a vacina um bem global, desestimula os investimentos, feitos na expectativa de lucros futuros.
Essa é uma história vivida à parte. Foi assim também na epidemia de AIDS. Vamos ver como o Brasil ficará nisso tudo. Espero que do lado da cooperação internacional.
A visão de Trump é inequívoca: America First.
Fonte: Blog do Gabeira