28 de março de 2024
Adriano de Aquino

O discurso em Davos


Uma das maravilhas da Internet é o livre acesso ao vasto campo de contradições tolas e posições políticas débeis. Pouco importa o tema. O que importa é marcar posição, contestar e… resistir.
Rolando o ‘feed’ de notícias desse site tive a chance de ler comentários surpreendentes, criticando o discurso do presidente brasileiro na abertura do Fórum Mundial de Davos.
Mais surpreendente de tudo é que as críticas desferidas ao discurso do presidente brasileiro, em sua maioria, partem de pessoas supostamente de esquerda ‘progressistas’ que se lixam para as críticas da esquerda ao Fórum de Davos, por sua característica eminentemente econômica.
Desde as primeiras edições, Davos reúne chefes de Estados, ministros e grandes financistas e investidores para debaterem temas ligados às áreas financeira e econômica e vislumbrar alternativas para o capitalismo global, em busca de soluções para os grandes problemas que afetam a economia mundial.
Quer dizer, trata-se de um fórum liberal em essência. A esquerda criticava esse dado, sobretudo porque ali se concentra os maiores detentores de capital no mundo, que se reúnem para debater sobre temas específicos, distantes da pobreza e carência da multidão de despossuídos do planeta.
Tal constatação levou segmentos de esquerda a criarem um fórum especifico para debater temas de grande abrangência social. A ideia tomou corpo com a criação do Fórum Social Mundial (FSM), um espaço de debate de ideias, reflexão, formulação de propostas, troca de experiências e articulação de movimentos sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil que se opõem ao liberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de predomínio econômico, com a preocupação permanente de busca e construção de alternativas às políticas neoliberais. O FSM é o palco onde brilham os teóricos e de onde emanam as teses mais eletrizantes de militância política. Sobre economia real é ZERO.
Por essas e outras, ler comentários de progressistas contra a curta fala do Bolsonaro sobre matéria econômica, coisa árida, por se tratar de dinheiro e investimentos, deixando de lado a prosopopeia dos tagarelas, que enchem linguiça com 40 minutos ou mais de ilustrações fora do objetivo central de Davos, se aventurando a discursar sobre o ‘compromisso’ do seu governo com justiça social e igualdade entre os povos, me leva a pensar que eles imaginam que a Suíça é um bairro de Aracaju, Alagoas, e seus discursos visam objetivamente ‘sensibilizar’ a economia e converter Davos em espaço para o debate e superação do capital financeiro pelo capital humano, através da retórica palatável aos capitalistas e liberais mais sensíveis (Oh!).
Se para ganhar credibilidade no ambiente econômico mundial, dependesse de discursos de que a Terra não é quadrada e sim redonda, alguns falastrões já teriam transformado seus países em megas Wall Street ou verdadeiros campos de prosperidade e riqueza do seu povo.
Bolsonaro falou por seis minutos. Alguns progressistas, em mais de duas horas de comentários, já preveem o fracasso econômico do seu governo.
Ora,ninguém melhor para analisar fluxos de capital internacional do que a galera de esquerda,não é verdade?
Se a máxima ‘Time is Money’ ainda exercer algum encanto entre capitalistas, os progressistas acabarão mais desolados e tristes.

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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